E como não lhe davam pedrinhas para comer
misturada à ração diária, as aves passaram a comer areia, pedaços de metal,
vidro, ossos, pedaços de ladrilho e tudo que encontravam para substituir as
pedras de que necessitavam para a trituração dos alimentos. Assim, estes
objetos se quedavam na moela, pois não
eram digeridos pelo suco gástrico e às vezes chegavam a obstruir o
intestino. As pobres aves ficavam então
tristes, penas ouriçadas, asas caídas, cambaleantes, sem fome, sem defecar ou
com diarreia e depois morriam como gado que pela seca, comia pano, papel,
papelão, borracha e plásticos. Iam ficando tristes, pesados, lentos,
preguiçosos e caíam para não mais levantar. Morto, abria-se o bucho, incrível
aonde leva a fome. Com fome, também o
homem faz coisas que ele próprio duvidaria. Como cães comem as próprias fezes,
sedentos bebem a própria urina. Nas
noites de Paris, corrido da Feijoada, corria atrás de pratos pra lavar por
comida. Enxotado por uns, acolhido por outros. Comer, inda levar para
Jussiê, envergonhado de Quixeramobim.
Filho de padre e freira. Trígamo guloso. Aventureiro, irias morrer se fosses a Florida de jangada, mesmo com rezas ao Nkisi
Tempo, Viracocha, Anubis. Tu não atravessarias o Vale. Que sorte, quantos não
morreram enterrados nos claustros. Olorum didê. Ficastes para contar.
Estou contando a história de Jussiê, com 18
anos, analfabeto e aos trinta encontrado
na Sorbonne, Universidade de Paris estudando letras e literatura francesa.
Falava-me de seus 11 irmãos, criados no
Quixeramobim, terra dos quixarás, comendo jerimum, tocando todos, algum
instrumento, que padre e freira revoltados proibiram de estudar.