sexta-feira, 6 de setembro de 2024

SILVIO ALMEIDA

        


          Silvio, meu nego, te conforma, graças dá, por inda estar vivo. Mundacho torto, dizia Teodoro, frade, baixo profundo, do coro da Piedade. Mundacho muito torto, volta à inquisição. Quem, hoje. Muito estranho, havia muita gente, lembro da mão dele nas minhas partes íntimas. E ninguém viu, Terta?  Constituição, coitada. Não está valendo uma folha de papel pardo, Mancambira. Todos iguais, ante lei. Não, se o acusado for homem e a mulher, acusadora. Esta é mais igual, aquele, menos; palavra d’homem não vale o descomer do cão; assegurada a todos a presunção da inocência. Basta, porém,  seja o acusador, mulher. O homem será atiçado no quinto dos infernos. E ai de quem tentar socorrê-lo. Terá o mesmo anátema que teve Espinosa; é assegurada a ampla defesa, o contraditório e o devido processo legal, não, porém, se o acusado for homem e mulher a acusadora. Adeus, Constituição, nem defesa, nem contraditório, nem devido processo legal. Defender o quê, se a palavra daquela tem peso de ouro e a do outro, peso nenhum? Insolência em arguir o devido processo legal, o processo somos nó; não haverá juízo nem tribunal de exceção. Não, entretanto, se mulher acusando homem. O povo se arvorou em juíz e tribunal; o judiciário abdicou do poder de julgar e passou a ser órgão homologador da sentença popular. Hoje, Frei Teodoro, muito difícil ser homem, como bem diz. você, no romance Noite em Paris.



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