Mas, o Senhor, querendo, pode falar com o Sr. Romero Celso de Melo, agora, mesmo na casa vizinha.
O Oficial de Justiça, saiu com seu séquito para falar com o executado. Sabia que não podia fazer nada para aquele crédito de milhões, inda mais quando percebeu que a casa vizinha era uma casa madeira, mostrando o interior pelas frestas da tábuas. Procurou a porta e não viu. Já ia dirigindo-se à um bar vizinho, onde se jogava sinuca e conversavam alto, quando viu pelas frestas aquela senhora que o chamava. É por aqui, Senhor. Ele, retornou e a senhora abriu a porta, por onde entrou e seu séquito, e começou a subir uma rampa, quando um jovem, esquio de barba por fazer, mas muito bem cuidada, que a Senhora me apresentou: O Sr. Romero, o Sr. Romero, Sr. Oficial, repetindo como se adivinhasse minha descrença. Eu estirei a mão para saldá-lo quando percebi que ele portava luvas. Falou-me educadamente e pediu que o esperasse na saleta ao lado. Eu virei para a senhora. Já entendi tudo, senhora, já entendi tudo. A sala era tão apertada! Pedi licença para tirar a camisa porque está me sentindo afogado e lamentei não ter trazido o celular. A senhora me disse: muito bom, senhor, que tenha entendido, assim pode nos ajudar. A mocinha perguntou à mãe: ajudar, ajudar como minha mãe? A mãe fez um sinal e eu lhe disse. Eu não preciso lhe ajudar em nada senhora, não será bondade minha, basta cumprir a lei e já estará, definitivamente, ajudada, porque em nosso país ninguém vai preso por dívidas, graças a Deus, usando o chavão nacional. A esta altura já estava completamente sufocado pelo calor e o roupão apertado que vá portava, dizendo-lhe não ter dormindo desde a noite anterior.
Vale a pena, vale a pena viver, Mancambira. Como renunciar a ver tanta beleza, tanta, pura criação do homem, igualando a natureza? O homem, este demônio doido, cão medonho das portas do inferno, um Deus maluco que nos enlouquece mais ainda com as coisas faz! Como renunciar à vida, né, Nietzshe, se o que nos espera é a eterna escuridão?
Não, Mancambira, eu não me canso, como Pessoa. Quanto mais apanho, mais vontade tenho de viver. Nam sou besta, nem nada, para deixar tantas bondades para os outros.
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