sábado, 1 de novembro de 2025

 

IDEIA de Juju Róis




Esta manhã acordei pensando ser o maior dos heróis, nem sei quem eu era exatamente, sim que eu era muitos, todos com diversos poderes. Poderes que se dispersavam e agora me via na Rua do Buraco, em Gandu dos jacarés e do Corujão, onde nasci, arrumando-me para o Polivalente, onde estudava. Que eu adore acordar cedo, nem vou falar, porquê mesmo sem aula, tenho de madrugar para trabalhar. Em verdade, nem de estudar, nem de trabalhar, eu gosto. Bom mesmo é não fazer nada obrigado, fazer só o que se gosta, no meu caso, preciso ajudar nas despesas de casa, e, assim, o jeito é fazer um outro e outro e tentar gostar. Não tenho escolha, me chamou tou dentro. Mais novo  gostava de comprar. As pessoas davam o dinheiro. Eu pechinchava até  conseguir um desconto e recebia um troço que sempre ficava pra mim. Diziam você conseguiu, fique você. Tem de jeito pra tudo. Por isto, puseram-me o apelido de Zé Pechincha. Não me importo, o importante é ganhar e um real a mais, não faz mal a ninguém. Não é assim que galinha enche o papo? O que gostaria mesmo era de ser um mago, estalar o dedo e a coisa aparecer. Mas deixa eu me arrumar, um ovo com farinha, café e banana para desjejum. Nós comemos  pouco pão, caro, nem sempre se tempo nem grana. Trago, às vezesque trago, às vezes, quando peço pra ajudar na padaria. Cortar, carregar e empilhar a lenha pra não molhar; pô-la no forno, esperar fazer a brasa, encher os cestos, muita  coisa, eu gostava muito. Também gostava de trabalhar na saboaria de Seu Almir. Era com lenha também, mas para cozinhar os ossos, apurar o sebo e fazer o sabão. O que eu mais gosto de fazer é ensinar aos meninos a fazer seus deveres e atividades. Descobri que aprendia mais rápido de que todo mundo. E foi daí pensei ensinar, inicialmente, de graça, depois comecei a cobrar. Os país não gostavam de pagar, achando que eu não soubesse da matéria, mas quando mostrei que sabia e que não podia deixar outro trabalho para não ganhar nada, ensinando, eles passaram a me pagar por banca. Muitos me davam os livros e estudava antes toda a atividade e outros assuntos. Havia sempre um que demorava de pagar, mas eu cobrava e eles pagavam. As pessoas me perguntavam como eu aprendia e eu não sabia, apenas dizia que aprendia lendo. Era fato, tudo que lia, via ou ouvia não esquecia mais. Uma conversa na rua, no rádio ou na televisão era o suficiente para não mais esquecer. E ainda quando não entendia sempre perguntava aos professores que nem sempre queriam explicar na aula, mas alguns explicavam depois das aulas. Fui aprendendo que saber dava mais respeito.



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                   NA ESCOLA 



                Acordei cedo, mas terminei chegando atrasado. Aula de História.  

                    A professora parecia não gostar muito de mim. 

                    - Você  aí, seu atrasadinho, qual foram os indígenas que comeram o bispo Dom Pêro Fernandes Sardinha? 

                                 Me lembrei da piada, mas não quis arriscar ser o engraçadinho e responde firmemente:

                               -  Foram os índios Caetés de Alagoas, professora.

                      Quebrou a cara pensou que eu não acertar. Não sei porque ela implicou comigo, deve ser porque chego atrasado na primeira aula. Ela não sabe, ou faz de conta que não o sacrifício que faço para estudar. Criado com vó, ainda tenho de cuidar dela antes de sair. Às vezes, na aula, eu me distraio, viajo na maionese, a professora percebe e me pergunta alguma coisa, parece que eu adivinho, eu sempre respondo certo. Todos ficam impressionados, inclusive ela, que tenta me pegar com uma pergunta difícil. Eu não faço porque quero, para abusar, me acontece a distração, as viagens da minha mente. Agora mesmo estava pensando num sonho desta noite. Uns meninos tentavam fazer bullying e eu tentava bater neles, mas o murro saia tão fraco que ainda mais riam de mim. Eu não posso entender porque acontece isto, eu não tinha medo deles, mas ficava chateado de não poder bater neles, de me faltar forças para tal,  por isto eu os evitava, não por medo. Os meninos da minha idade sempre falam em namorada, eu ainda não namorei ninguém porque tenho vergonha da minha condição. Elas não gostam de quem faz trabalho braçal, mal sabem elas, que com meu trabalho, faço mais dinheiro do que a mesada que seus pais lhe dão. Algumas delas chegam a me dizer que gostariam de namorar comigo, mas que seus pais não deixam. Eu não me importo, na rua Manoel Novais, rua da Delegacia, como é mais conhecida, tem uma casa que tem 4 meninas muito bonitas, eu gostaria de namorar com todas elas, mas a timidez não deixa. Mas o que há-de ser, será. É como  dizia minha tia Nanã. Eu me lembro muito dela e ela gostava de mim. Muito do que sei agora, ela me ensinou. Quando lhe dizia eu não sei fazer isto, ela dizia, aprenda, fazendo. Sem um começo nada se faz, se errar, faça de novo. Como era sábia! A escada mais alta sempre começa pelo primeiro degrau, o mais  baixão.

    

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                  Me chamaram para ir, depois da escola,  bandeirar cacau em Teolândia, na fazenda de Dona Maria Reis. Gosto de trabalhar no cacau, além de tomar mel, a gente pode trazer algumas cabaças ou bagas para fazer chocolate. Adoro o mel de cacau mais ainda o chocolate que minha vó faz. Ela pega as bagas bem secas, crocantes e passa no moinho de milho, depois ela põe leite e açúcar e às vezes castanha de caju e bate no liquidificador, formando aquela pasta que leva ao fogo lento. Um beleza e cada dia ela faz de jeito pra gente tomar no café Lá vou eu pra roça, amanhã é sábado e posso trabalhar até domingo. Podar, desbrotar, roçar com Bôscoli, tudo gosto de fazer.  O tempo, como sempre, chuvoso e as estradas perigosas, obrigando-se a se usar correntes nas rodas para subir as ladeiras. Tinha medo do carro cair num precipício que eram muitos, embora, ao mesmo tempo, não sei porquê, achasse  que se acontecesse algo, não morreria. Foi assim que fui me acostumando com situações difíceis e me saindo bem sem nenhuma lesão. Gostava de me exibir, mostrando que não tinha é assim é vencendo o medo que de fato, eu tinha. Assim subia em qualquer árvore, furava mel, sem das abelhas, montava em burro brabo, enfrentava vaca parida,  e touro bravio. Fazia tanta estripulia que muita gente não dava trabalho, com de eu morrer. Eu não tinha o menor medo de morrer, tinha medo de muita coisa, mas tinha impressão que não morreria. Um dia, inventei de pegar uma cobra, eu tinha tanto nojo, mas para me exibir, fui lá. Sabia que se estivesse andando ela não me morderia. A





                   Amor, se fosse um pum, eu nunca mais te soltaria.

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