“Levai à minha amada
Estas poucas e duras
palavras...
Que ela não conte mais,
como antes, com meu amor.
Por sua culpa, ele
morreu,
Como, à margem do prado
morre a flor,
Que a charrua, ao passar, tocou”.
(Caio Valério Catulo,
poeta latino, em Carmen XI)
Salvador,
06 de fevereiro de 1975
ANA LUZIA,
Soube
que você vai se casar. Cago pra isso, mas aqui estou como prometi, te
dizer algumas coisas que ainda não saíram de minha cuca.
Je me souviens de toi
Il souffit
J´attache la porte de ma
voiture
Avec le cordon bleu.
Je me souviens de toi
Quand je prends mon bain
Au savon “chuvas de rosas”
Je me souviens de toi
Et je te déteste
Quand je me rapelle
De tes mensonges
bourgeoises
Ah! ma petite fille!
Si tu savais la douleur qui vient de toi
Pourrais-tu savoir ce qui se passe dans mon coeur?
Garde tes yeux de ma face.
Mon coeur pourra vaincre ma
conscience.
Meu coração poderá vencer minha consciência.
Amiga. Amiga? Quero ser o teu demônio. O teu
“amigo”, o teu “admirador” o teu detrator.
O imbecil que passou em tua vida. O madeiro que te conduz ao silêncio. Os dejectos que jogas na
latrina. O algoz que te leva ao cadafalso.
Ah! As mentirinhas pequeno-burguesas. Como fazem
doer as minhas carnes! As intriguinhas. Os enredos pré-fabricados. A monotonia
do que se entregam à mediocridade, dos que tem medo dos sentimentos fortes.
Se eu morrer amanhã. Ah!. Se eu morrer amanhã!.
Dormirei la primeira noite fria no teu corpo quente.
O tal que estava esperando você e a prima, a
loura, naquele dia lá embaixo na casa de Ivonete foi o Ivon. Mais uma das suas.
Se eu chegasse naquela hora você tinha se mandado e eu ficava a ver navios.
Aliás, fiquei. Você aproveitou o embalo e zangou-se de araque. Bruxa e criança,
você é.
O rio leva a água pro mar. O mar solta pro ar. O
ar descarrega no rio.
Passo pelo Hospital Português. Podridão. Pelo
hospital português. Ódio. Hospital Português. Dedicação. Português. Amor.
Arrependimento. Passo. Passas. Passo. Passas.
Aquele
chocolate sujou mîa boca.
Aquele
chocolate não
deveria ter vindo
À minha boca.
Aquele
chocolate arde minha boca.
Aquele
chocolate
Teus
olhos, chocolate, teus olhos;
Cortai
Todas
as linhas para Brasília
Cortai
Todas
as linhas pra Bel’ Horizonte
Cortai
As
linhas do meu coração.
Eu
nunca digo adeus
Nem,
amém.
(Publicado na Coletânea O RETORNO
DA ESPERANÇA - Art-Contemp Editora, Salvador/Ba,1996 ).
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