O senhor Gregório Teixeira tinha o hábito de
mandar sua esposa dormir em casa do sogro, pois este era velho e vivia só.
- Vai, Venância, dormir com teu velho. Coitado,
tão só naquele casarão!
E lá
se ia D. Venância passar a noite com seu velho pai. Bem que gostaria de
trazê-lo para morar consigo, mas o ancião insistia dizendo: - Só saio daqui
para o campo santo. Aqui eu nasci, aqui
vou morrer. Ela não o entendia aquele agarradio a tão bisonho casarão. Seu
Gregório aproveitava estas noites para dar umas fugidas. Não tinham filhos,
pois dois que tiveram morreram. O Governo não cuida de nossas crianças. Eram
três horas da madrugada deste setembro de setenta e quatro. O calor vinha do
inferno. E enquanto não tinha dinheiro para adquirir um bom ventilador, ia
dormindo com a janela aberta para amenizar seu sofrimento. Entrava um ar fresco,
e sua casa sobre o rés-do-chão, montada numa das colinas baianas respirava
melhor.
A
cama era de uma madeira barata, comprada à prestações na “Casa do Bem Vender”.
Dois meses atrasados e a ameaça do
gerente de vir buscar a qualquer momento o móvel que fazia seu Gregório e sua
mulher sonharem sonhos de amor e de esperança. Um lençol encardido escondia o
colchão de molas que lhes fizera o bico
de papagaio. Tinham de comprar logo um colchão ortopédico. Era esperar a
gratificação natalina. Braços abertos sobre o leito, cuecas fedendo a mijo e
bosta, seu Gregório roncava a tranquilidade. Subitamente sentiu uma onda de luz
sobre os olhos que só abriram, entre o sonho e a realidade. Viu um indivíduo de
estatura mediana. As mãos pretas seguravam um revolver. No rosto, uma toalha.
Na cabeça, um gorro. Na cintura, uma corda enrolada.
Levanta,
puto - Ouviu e atendeu.
- Para
o sanitário - Tentou resistir, mas um empurrão mostrou-lhe a força, a sentina e
a empusa. Estava sendo trancado. Sentiu. Não teve coragem de gritar. Será que
ouviriam? - Ele não ira me matar?
Uma
dor de barriga invadiu seu corpo. Sentou-se no vaso. Espremeu-se. Não saia
nada. Se demorou muito não sabe. Se era um homem só, tampouco. Lenta e calmo
destrancaram-lhe a porta da latrina. Saiu-lhe um jato de fezes-água.
- Se
quiser morrer, saia daí agora, viu seu
puto?
Fez-se
eternidade. Lembrou-se de que não havia papel higiênico. Não quis limpar-se com
a cueca e muito menos com o dedo. Tinha que abrir a porta. Procurar um jornal.
Até sorriu. Para que servem os jornais?
Aventurou-se a abrir a porta Viu não haver mais ninguém. Antes de achar
o jornal, achou o lugar vazio do aparelho de TV. O rádio desaparecera. No
guarda-roupa camisas e calças se foram. Roubaram-lhe até um mealheiro contendo
cem cruzeiros talvez.
Na
mesinha de cabeceira, um bilhete com os garranchos.
“Ver se
fexa sua jinela, viu, seu puto”
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