quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O AVISO

                                               














                                                          
O senhor Gregório Teixeira tinha o hábito de mandar sua esposa dormir em casa do sogro, pois este era velho e vivia só.
- Vai, Venância, dormir com teu velho. Coitado, tão só naquele casarão!
       E lá se ia D. Venância passar a noite com seu velho pai. Bem que gostaria de trazê-lo para morar consigo, mas o ancião insistia dizendo: - Só saio daqui para o campo santo. Aqui eu nasci,  aqui vou morrer. Ela não o entendia aquele agarradio a tão bisonho casarão. Seu Gregório aproveitava estas noites para dar umas fugidas. Não tinham filhos, pois dois que tiveram morreram. O Governo não cuida de nossas crianças. Eram três horas da madrugada deste setembro de setenta e quatro. O calor vinha do inferno. E enquanto não tinha dinheiro para adquirir um bom ventilador, ia dormindo com a janela aberta para amenizar seu sofrimento. Entrava um ar fresco, e sua casa sobre o rés-do-chão, montada numa das colinas baianas respirava melhor.
       A cama era de uma madeira barata, comprada à prestações na “Casa do Bem Vender”. Dois meses atrasados  e a ameaça do gerente de vir buscar a qualquer momento o móvel que fazia seu Gregório e sua mulher sonharem sonhos de amor e de esperança. Um lençol encardido escondia o colchão de molas que  lhes fizera o bico de papagaio. Tinham de comprar logo um colchão ortopédico. Era esperar a gratificação natalina. Braços abertos sobre o leito, cuecas fedendo a mijo e bosta, seu Gregório roncava a tranquilidade. Subitamente sentiu uma onda de luz sobre os olhos que só abriram, entre o sonho e a realidade. Viu um indivíduo de estatura mediana. As mãos pretas seguravam um revolver. No rosto, uma toalha. Na cabeça, um gorro. Na cintura, uma corda enrolada.
       Levanta, puto - Ouviu e atendeu.
       - Para o sanitário - Tentou resistir, mas um empurrão mostrou-lhe a força, a sentina e a empusa. Estava sendo trancado. Sentiu. Não teve coragem de gritar. Será que ouviriam? - Ele não ira me matar?
       Uma dor de barriga invadiu seu corpo. Sentou-se no vaso. Espremeu-se. Não saia nada. Se demorou muito não sabe. Se era um homem só, tampouco. Lenta e calmo destrancaram-lhe a porta da latrina. Saiu-lhe um jato de fezes-água.
       - Se quiser morrer, saia daí agora, viu  seu puto?
       Fez-se eternidade. Lembrou-se de que não havia papel higiênico. Não quis limpar-se com a cueca e muito menos com o dedo. Tinha que abrir a porta. Procurar um jornal. Até sorriu. Para que servem os jornais?
    Aventurou-se a abrir a porta Viu não haver mais ninguém. Antes de achar o jornal, achou o lugar vazio do aparelho de TV. O rádio desaparecera. No guarda-roupa camisas e calças se foram. Roubaram-lhe até um mealheiro contendo cem cruzeiros talvez.
    Na mesinha de cabeceira, um bilhete com os garranchos.
  “Ver se fexa sua jinela, viu, seu puto”





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