Parece borderline. Me puno muito. Não sei perdoar. Eu também sou, me identifico. Se eu machuco alguém o mundo cai pra mim. Esquizofrenia paranoide e transtorno de personalidade dissocial, assim diz o doutor. Não sei nada, e tenho de acreditar disse dizia Edinho. Pois é, quem, sofre de esquizofrenia tem de passar longe de racha, maconha, estes troços aí. Estudos dizem que maconha desencadeia doenças mentais. Uma amiga, nova, cara, nem vinte anos, se deu mal com isto. Em mim, não. No surto, me ajuda demais. Dá uma brisa! No surto, cara, doideira é esta? Agora, vi, virou meu cérebro. Nunca ouvi falar. Há evidências, meu broder o uso do cannabis de alta potência - mais de 10% de THC - fator de risco no desenvolvimento de transtornos psicóticos. Quem sabe como conseguir gratuidade no transporte por transtornos? No Descomplica, pelo menos este consolo, com ficha do psiquiatra. É nóis ama vida, nóis não desiste. Mudando de pau para cacete, por quê a Janja xingou o Elon Musk? Burrice, mostrou que não entende nada de política como o marido. Leio, leio muito. Agora, na biblioteca, estudando matemática. A euclidiana. Já trabalhei hoje. Daqui a pouco aula. Muito só. Estudar, um ato solitário. Me afastei do mundo. Depois da aula, ir pra casa, preparar janta, deixar tudo limpo pra amanhã, começar de novo. Solitária. A música de Raul Seixas. “Não diga que a canção está perdida, tente outra vez. Vocês já leram a bula dos remédios? Um horror, podem até induzir ao suicídio. Evito. Leio, às vezes. Médicos, maiores traficantes de drogas. Não seriam os laboratórios, amiga? Têm o monopólio do uso das drogas. Sei, não, só sei que remédios e tudo, tive minhas fases. 10 anos, se quer saber. Hoje, estou há 7 ativa. Trabalho, estado, cuido da casa, de mim, de meu filho, meu marido. Muitos remédios e uma luta contra a procrastinação, Não me envergonho, superei. Dez anos? como aguentou? Dez, dormindo dopada. Várias vezes, tentei me matar, não conseguia. Tenho uma carta de despedida. Aquando, de novo, tiver coragem. Arrumaria, que nunca mais tenha, amiga. A irmã: tão fracassada que nem capacidade para se matar tem. Sou sempre socorrida. Mas a carta está guardada. Que nunca precise ser lida, amiga. Sim que nunca, nunca, nunca. Sua irmã falou isto? Parentes destes, melhor seria não os ter. Destas, nem precisa ter inimigos. Eu, G, com 37 anos, me trato no CAPS há 14. Tem cura, bipolaridade? Freud, embora afirme, alguns autores dizem nunca ter curado ninguém. Palavras não curam, drogas não curam. Sigo fazendo, descrente de tudo. E eu, G, há 25 anos. Como acreditar? Quero morrer! Eu, também não aguento. Calma, meninas, vocês são lindas, a vida é bela. Respirem fundo, pensem em alguma coisa que vocês gostam muito. Deixar tudo isto pra os outros? Nem ver! Hoje, tô qui tô. Dia inteirim na cama. Como queria mor ê, tá difícil viver! Um lixo, como me sinto, um pesonumundo. Remédios, mesm qui nada. Num guento mais a cabeça. Uma pergunta, cês têm dois tipos de mania? Uma, parece, fica muito produtivo, acredita que vai conquistar o mundo. Outra também enérgico, mas só nas redes e na cama ou festas? O desconhecido é muito temeroso. Tudo escuro, só terra na cara, além do mais sou claustrofóbico, tenho medo de lugar apertado, por isto, prefiro não morrer, ficar por aqui mesmo, a cana é dura mas é doce. Cemitérios vivem cheios cheios de flores, quantos ali as receberam em vida? Como diz Daniezinho Aleijado nóis sofre neste mundo, mas também goza. Sei não, acho que fizeram macumba para broxar. Que é isto, rapaz? Isto não existe não, cara. São as doenças. Macumba, não existe. Como religião, respeito, como feitiço, não existe mesmo. Não há comprovação científica. Não há, nos dias de hoje, como acreditar nestas coisas. Cara, fiquei broxa antes de descobrir as doenças e de tomar os remédios. Não, irmão, quando você percebeu que estava broxa, você já estava doente. A depressão começa exatamente assim. Diminuindo a libido. Todo mundo precisa ler tudo sobre estas doenças, porque os médicos não nos avisam. Sacanagem ou não, eles se calam e nós temos vergonha de perguntar, o caminho é estudar por conta própria. Mas, eu sou interditado. Quem te interditou? Meu pai. Teve que ser assim. Eu, no fogo do inferno. Que é isto, amiga, nem inferno existe, quanto mais fogo. Tá, chovendo? Vou tomar banho pra refrescar o fogo do inferno. Gente, nem fogo, nem morcego. O morcego chupa meu sangue e fico muito mole, sem forças. Tu é nazista, cara. Sou nada, Nem sei bem o que é isto. Algo como quer tudo pra si. Só você tem razão. Cuidado, nazismo não é piada. Até loucura tem de ter limite. Se tem limites, não é louco, moço. Ih, tou doido pra descomer e não tem papel, nem água no chuveiro. Depressivo pobre. Agora, vá. nada dum rico, nada falta ao deprê. E eu, além da depressão, tenho diabetes 1 que me obriga a ficar atento o tempo todo, para não deixar a glicose baixar. E isto é dinheiro. Me vejo como esmoler, pedindo a parentes e amigos ajuda para comprar remédios. De todo jeito se sofre, como o rapaz que foi eliminado do Enem porque o sensor do diabetes fez tocar o celular. É amigo, este, pelo tinha celular, sensor e inda tava fazendo o Enem. Eu, nem isto sei, o que é. Muito desigual, Marina, muito desigual. Meu psique, me disse que depressão bipolar também leva à alucinações visuais e auditivas. Pois, eu tenho D. É cheiro de mofo, de flores. Vozes, nem se fala. Ver coisas, muito pouco. Eu, na depressão, me torno perigoso para mim mesmo, razão porque não uso antipsicóticos mais. Me jogam na deprê. E aí, não trabalho, não como, não tomo banho, não saio da cama. Meus dentes, tão bonitos, se estragaram. A hipomania. Tenho de me sustentar, tenho uma filha, irritadiça, já percebi, os mesmos tiques nervosos meus e de meu pai. Coçar a cabeça, até arrancar cabelos. Hoje, exatamente hoje, nasci. Maldito seja o dia de meu nascimento! Maldito, o ventre que me deu à luz; Maldita, a família que não pedi; maldita a sociedade, a cultura a qual pertenço, sem ter pedido; maldita esta data, mais um ano a passar pela maldição que é a vida, Vida maldita, vida bandida! “Esta noite, eu queria que o mundo acabasse e para o inferno o Senhor me levasse” Cruzes! Que foi, amiga? Meu aniversário. É hoje. Então, parabéns. Mil felicidades! Por favor gente, parabéns, não. Não quero esta merda de parabéns! Mais um ano que suplício! 47 de sofrimentos e angústia. Nada, mulher, aproveita a vida. Veja Isabella, jovem, bonita, 21 anos, dançarina da Claudia Leite, cheia vida, teve uma parada cardíaca, num ensaio, e morreu. Você deve agradecer pelos anos já vividos. Agradecer a quem, amiga. Eu pedi a alguém para vir? Não tenho de agradecer a ninguém. Calma, deix’ela chorar sua dor, quando passar, ela vai rir. Outro dia, lembra? Ela falava do amor à Deus, desta Igreja. É, mas parece que desta vez, a igreja não lhe foi muito útil. Igrejas, cá pra nós, não socorrem muita gente. A ganja, sim, pode desenvolver doenças mentais, mesmo em quem nunca teve. Tem teses científicas afirmando isto. Eu, Norton, de tanto me mudar, me tornei, sei lá, um psicopata número 2, bipolaridade, TOC, TAC mas, tudo normal. Já eu, crises de depressão e ansiedade, mas sem qualquer apoio da família. Estou, sozinho, agora buscando tratamento. Vocês não vão ao CAPS? É gratuito. Obrigado a trabalhar. Me sustentar e ainda ajudar a família e por cima inda estudo. Estes lugares tomam tempo. Sim, mesmos os pagos. Gente, quem tem bipolaridade não pode nem pensar em cannabis. Outro dia pedi ao médico para receitar. Fique bem longe disso, rapaz, não desenvolver uma esquizofrenia, me disse o tubibe. Tenho depressão bipolar Cid 10 F32. Bipolaridade afetiva, dificuldade comigo mesmo, e, com os demais. Bendita, a dor. Tu me iluminas e me dás o equilíbrio; Bendito o agora, o ar que respiro e o belo que há em tudo; Bendita a tempestade que traz a bonança e luta que nos fortalece. Hum, este amanheceu inspirado e otimista. Só por uns minutos, só por uns minutos. Deixa o sol esquentar. Ieu quand istou azuretado ouço música, todo tipo. Só ela me acalma. Agora mesmo, ouvindo Chuva Morna, frevo de Heraldo do Monte no piano de Artur Moreira Lima. Já eu, pintando, pego pincel e tinta e pinto o que me dá na cabeça. A paz volta, vai-se embora a agonia. Tenho muito medo destas horas. Parece um coisa. Sempre que pego a condução, voltando do CAPS, ouço vozes me atacando. Ensurdecedor. Não ouço nada, só as vozes. As vezes, ouço a voz de um passageiro me xingando. Não é verdade que ele esteja me xingando, há momentos, porém, tenho dúvidas de que não seja. Fico confuso. Quando vejo estou brigando. Outro dia um cara me deu um murro e quebrou óculos. Passei uma eternidade como eles quadrados, porque não tinha dinheiro pra comprar outro. Faço aula de dança, me acalma muito, mais que remédios, seis quilômetros de casa, vou a pé, não tenho grana para transporte.
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Não, não e não. Não quero isto pra mim. Pobre moça! Talvez fosse uma terapia, sua atuação no coral da USP. A gente tenta entrar no mundo, ele, porém, não entra em nós, e aí? Que fazer? E nos apedrejam, covarde, medo de enfrentar a vida. Preguiça, muita preguiça. Não quero isto pra mim. Matar, nunca. Muito menos, matar-me, como fez Chico Wanderley em frente ao STF. Tomara que os caras não se aproveitem de nós para fazer estas loucuras. Nossa doença nos tornam muito vulneráveis se se aproveitarem com promessas, muito de nós somos capazes de cometer besteiras. Por isso que não falo pra todo mundo que tenho isto. Eles v podem pensar que sou capaz de atacá-los a qualquer hora. Qualquer um sabe de que um deprê é capaz. Depois a desculpa, problemas mentais, lobo solitário, e, assim a gente morre ou vai para cadeia e eles ficam de boa.
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Não dá para lembrar bem, Doutor. Era na roça. À noite o sertão é frio. Só eu acordado. Curiangos cantavam, uma suindara voou sobre o telhado rasgando sua mortalha deixando mais apavorado que o canto, ao longe, da mãe-da-lua. Mas, de repente, entrou uma luz branca e fria, alumiando toda a casa e homens entrando, brandindo facas facões e machadinhas. Procuravam pelos outros. Estão dormindo, dizia. Vá acordá-los, todo mundo vai morrer.
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Parece borderline. Eu sou me identifico muito. O borderline tem mais ou menos as mesmas características do bipolar. Um dia, enfiei, no meu braço, uma agulha de crochê. Por quê? Doeu? Uma faca no braço, uma chave de fenda na perna. Tenho muito medo do que sai de minha boca. Depois pra consertar, difícil. Queria ser normal. Quem nào queria? Fugir do mundo. Sumir. Ninguém saber de mim. Num guento mais. Mas, também quando vejo tanta coisa bonita nem penso partir deixar tudo isto aí pros outros. E eu não quero existir. Só faço maldades com as pessoas. Tenho medo mim. Eu, hipocondríaco, doenças? Tenho tomo remédio com antecedência. Conheço um cara. Ele tinha um caso com um boy, aí ele fez o boy casar com a irmã para viverem juntos. Não sei se a irmã sabia do caso deles. Sei que vivem há mais de trinta anos. Loucura, acordei 1:30 e desde então estou acordado. Tenho dentista, hoje. Vou estar arrasado. Inda assim, quero viver, Ayala? Vi, em algum lugar, que um cavalo está valendo 50 milhões de dólares. Digam-me, para que maior prova de nossa insignificância e da total inexistência de. Que amor é este que permite tanta disparidade? Quem nos está querendo mostrar o quanto somos imbecis e insignificantes? E ainda que aceitemos caladim? E ainda quer que agradeçamos só pelo simples fato de viver? É tem gente que é cego. E muita gente. A maioria. Hoje, fui passear com meu cachorro, que, geralmente, se torna agressivo quando vê outro cão. Logo, vinha de lá uma senhora com uma cadelinha. Embora estivesse de coleira avisei: cuidado o cachorro é agressivo. Ela, bem de seu, mas ela não. Nem deu tempo, meu cachorro me arrastou e partiu pra cima dela, quase mata a bichinha. Ela chamou a polícia, queria me prender por maltrato aos animais. Se meu cachorro tivesse mordido a senhora, talvez a polícia não tivesse sido tão dura comigo. Dá pra acreditar que realmente existe algo acima de nós? Tudo isto me entristece, mas que posso fazer? Se olharmos o mundo, veremos que tudo foi sempre assim. Basta lembrar-se de Védio Polião. Criador de lampreias, cuja carne apreciava, jogava às lampreias o escravo que lhe desagradasse. Quem permite ao homem, tal selvageria? Dá para acreditar? Fazem a gente de besta. E eu vi dois policiais torturando uma pessoa, fazendo-a respirar a descarga de uma moto. Pergunte-lhes se eles acreditam em Deus e eles vão até se ofender. Nenhum dos dois é ateu. Né nada não, todos os demais crentes em Deus elogiaram a atitude dos policiais. Morto de cansado, mas tenho dentista. A depressão levou boa parte de meus dentes. Nunca fui um “brat” sempre me cuidei bem, fazia minha higiene, cozinhava, limpava casa, lavava, passava e costurava minhas roupas. Tudo sem precisar de ninguém, mas o diabo desta depressão me revirou pelo avesso, não coragem pra nada. Um inferno, mesmo assim, prefiro. Melhor que ser comida de vermes. É de se confirmar com a doidice. Todos, de uma forma ou de outra o são. O Netanyahu, depois matar milhares de pessoas e destruir toda Gaza, não está, agora, oferecendo dinheiro para quem resgatar os reféns? Não é uma prova de insanidade? Sei não, viu?Melhor encurtar os loros. Do jeito que o mundo tá pra morrer é daqui prali. Ou no mínimo, receber um processo pelos peitos, porque o livrinho, nestes casos, não vale.
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Estava a caminho de meu psi, disse algures que moro a três quilômetros da rua, aquando avistei de longe um animal na estrada.