Eram dezoito horas e trinta minutos na estação
rodoviária do salvador. Janeiro, dez do ano de mil novecentos e setenta e
cinco. Era um vai e vem constante dos que se apressam em viajar. Negócios. O
homem corre sacolejando sua pasta e suas esperanças. Abre sua gravata ao calor
tropical. A velha arrecada dos viajantes uma moeda: precisa viajar não se sabe
onde. Nunca tem o dinheiro completo e vai-se deixando ficar interminavelmente.
No ar, o zum-zum-zum da gente, as ondas curtas da Central de Operações, o estampido
fumacento dos motores
Na plataforma C “Soldadinho” amava. Brilhavam
seus olhos e seu coração. Miriam lhe dava mais segurança que suas armas..
Miriam abria seus lábios na sua boca. Nos seus ouvidos. Sussurravam. Iriam
fazer uma linda viagem. Antes de chegar no Recife assaltariam o ônibus e teriam
dinheiro para bons dias nos hotéis pernambucanos.
A calma dos que confiam em suas forças. Nem
sequer se lembravam dos assaltos praticados na Bahia, quando deixavam suas vítimas inteiramente
nuas. Apenas apreensão. “Paulista e Branquinho” ainda não tinham se reunido a
eles. Atrasaram-se, com certeza, iriam perder
o ônibus. E a passagem está custando tão caro! Não vale mesmo a pena
trabalhar neste país: o dinheiro não vale nada.
Amavam. Os braços morenos encontravam-se e se
entrelaçavam, num apertar e afrouxar quase rítmico. O ônibus entrou na
plataforma. Recife. Duas, quatro, seis, oito mãos fortes seguraram seus braços
amorosos. E trocaram - bocas, inda
abertas pelo beijo, o conforto do
carro-leito, pela desordem da camioneta policial
- Para a delegacia – Grita, colérico, o policial, e mais para si - hoje arranco tudo destes dois.
Sirena, fumaça e medo fustigaram o ar. Quem depois conseguisse
romper o engarrafamento de Salvador e se
aproximasse dos porões da primeira delegacia,
talvez ouvisse os urros abafados de um homem. Não. Não. Os assaltos sim. Não matei Negão Laranjinha, ou o soluço
de sua mulher e o grito de ciúme :
- Deixem
minha mulher em paz, seus desgraçados.
A Bahia dormiu e acordou com o alarido dos
jornaleiros. Preso o assaltante Soldadinho.
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