quarta-feira, 6 de maio de 2020

MANGA QUENTE








                                   Dona Eulália, pra nós, Dona Oláia, armava a melhor lapinha de Natal. Festeira, sempre à frente das festas. O bumba-meu-boi, boi voador de Nassau, os autos de Natal, o Santo Antonio, e até o carnaval.  Ôlê lê, lê, Cadê meu carnaval. Carnaval está morrendo, cadê meu carnaval. Se o samba acabar, também vou morrer. Se o samba acabar, também vou morrer.
                                   Os gritos de Seu Genário no leito de morte, manga chupada quente, comprada na feira, diziam. Gritos? Uivos, ouvidos de toda rua, a cara magra, fina, fina, a sombra na parede, à luz do fifó. De fazer medo. Saí de perto, pra fora, mamãe lá, Dona Rosita, consolar. Ah, os gritos, na cama, nos ouvidos. E Jairo de tia Rita, também de manga. Menos de uma semana se foi, como seu Genário. Mostra tua cara, pedia, no silêncio, no escuro. E tem cara?Ainda nu tinha visto. Nã. Feia, deve ser.  Imaginava, passando no cemitério, pra casa de tia ou de tia São Pedro.



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