Madame Faure abriu, grande, os olhos.
Verdazulados. Faure, tradicional família entre os francos. Há Faure pra tudo,
até presidente. Felix Faure, pois não morreu de língua?. Fazia sexo oral no Palácio do Eliseu, com Marguerite Steinheil. Não se sabe que
língua o matou, se a dele ou a dela. Também mais tarde, o Cardeal Jean Danielou vai morrer fazendo sexo com uma prostituta. Fica provado: Putaria e corrupção rondam o poder como fazem urubus com gado faminto no nordeste. Nem deixam o boi morrer, começam
estripando o mais vulnerável das vitualhas: o anus, a vagina, os olhos, a língua amolecida
na boca do animal agonizante,
estremecendo e contorcendo-se de dor pelas bicadas. Lixeiros do mundo, aves e
cães. Lida pelo melhor pedaço, vence o
mais forte. Também o homem, quando se
entrona ou busca o poder. Pior, insaciável. O animal quer matar sua fome, mas limpa terra. Ele quer ser jornalista, imaginem o quanto insólito será escrever daqui a vinte
anos sobre nós, adivinha-se personagem. Claude,
pragmático, menos filosófico. Gostaria de
ser lembrado como um amigo. Não se pode negar que o fora, como pode ser de estrangeiros um francês. Apelidou-o carinhosamente, Didi, homenagem ao meio-campista, eleito melhor jogar da Copa de 58, o Mister Football, o Folha-Seca.. Prova de amizade. Formal o francês. sem intimidade não apelida ninguém. Usam o nome de
família. Mr. Tel, Mr. Quel.
Claude, só tu para suportar, com humor, minha lentidão no enxugar os pratos, doirar os metais, no varrer a casa. Jean Deglain, ou era Deglun? (creio mesmo que era Deglun), mais efusivo, mais espontâneo, talvez pela juventude dos dezessete anos, parecia mais amigo, mais cordial, cúmplice, até. A perdição foi a velha Corine. Tão logo anoitecia, preparou a comida, (Os empregados comiam, antes dos fregueses chegarem), um prato de sua provence que minhas papilas gustativas não reconheceram de imediato e devem ter enviado informações falsas ao cérebro, cumulando por identificar um sabor não tanto quão agradável, como esperava a velhota. Chega Normando, pergunta pela comida, (ele comia sempre antes de cantar sua Bossa Nova), uma merda, disse. Não há maior ofensa ao francês do que dizer mal de sua comida. Ofendida, no mais íntimo de si, a velha senhora, orgulhosa de sua cozinha, exigiu minha despedida. No dia seguinte. Não soube me defender. Orgulho infantil adjungido à timidez bloqueando a defesa. Jogado, adolescente, nos claustro capuchinho, castraram-lhe os desejos, os impulsos nascentes. Morto o mundo, matado. Vai, aprende agora o que não te fora possível na adolescência, saído do claustro, do claustro saído. É tarde pra a ser criança. Pagarás eternamente tua dívida. Não parece ter sido assim com outros. A maioria, desinibida até ao exagero, talvez, escondendo seu retraímento. Aqui, angustiante ao extremo. Cá fora, no mundo, como diziam, hercúleo peso, pros que pegavam o jegue. Pegar o jegue, jargão dos frades e seminaristas, ser posto fora. Não pegava o jegue quem pedia pra sair. Eu tinha pegado o jegue, tão logo chegara de férias, em dois anos. Franqueza e falta de malicia. Aluno exemplar, piedoso, querido, obediente à disciplina, fora, como de costume chamado à diretoria. Entrevista com o padre diretor, ouvir queixas, dar conselhos, orientações. Entrara no seminário por ser pobre, estudar de graça; Que a vida de estudo e oração lhe dera vocação de verdade; Que estava sofrendo pressões da família pra sair do seminário; Que queria ser frade e pedia ajuda espiritual. O capucho cofiou a barba, pensativo, o Cristo, lívido e ensanguentado, contorcido na cruz ouviu o silêncio na sala. Quanto vale ser honesto? Mandado embora. A que serves, honestidade? Quantos dissabores? Vale a pena? Assim n´A Feijoada. Não gostara da gororoba de Madame Corine. O olho da rua. Ser honesto não é dizer a verdade, é não dizer mentiras. Razão, com Jussiê, cabra curtido no Vale do Cariri. Imbecil fora, merda é fácil, merde, ela entendeu. Gororoba, ela nunca iria entender. A velha Corine substituíra Jean que fora se engajar no exército. Se ele ainda estivesse lá não teria sido despedido.
Claude, só tu para suportar, com humor, minha lentidão no enxugar os pratos, doirar os metais, no varrer a casa. Jean Deglain, ou era Deglun? (creio mesmo que era Deglun), mais efusivo, mais espontâneo, talvez pela juventude dos dezessete anos, parecia mais amigo, mais cordial, cúmplice, até. A perdição foi a velha Corine. Tão logo anoitecia, preparou a comida, (Os empregados comiam, antes dos fregueses chegarem), um prato de sua provence que minhas papilas gustativas não reconheceram de imediato e devem ter enviado informações falsas ao cérebro, cumulando por identificar um sabor não tanto quão agradável, como esperava a velhota. Chega Normando, pergunta pela comida, (ele comia sempre antes de cantar sua Bossa Nova), uma merda, disse. Não há maior ofensa ao francês do que dizer mal de sua comida. Ofendida, no mais íntimo de si, a velha senhora, orgulhosa de sua cozinha, exigiu minha despedida. No dia seguinte. Não soube me defender. Orgulho infantil adjungido à timidez bloqueando a defesa. Jogado, adolescente, nos claustro capuchinho, castraram-lhe os desejos, os impulsos nascentes. Morto o mundo, matado. Vai, aprende agora o que não te fora possível na adolescência, saído do claustro, do claustro saído. É tarde pra a ser criança. Pagarás eternamente tua dívida. Não parece ter sido assim com outros. A maioria, desinibida até ao exagero, talvez, escondendo seu retraímento. Aqui, angustiante ao extremo. Cá fora, no mundo, como diziam, hercúleo peso, pros que pegavam o jegue. Pegar o jegue, jargão dos frades e seminaristas, ser posto fora. Não pegava o jegue quem pedia pra sair. Eu tinha pegado o jegue, tão logo chegara de férias, em dois anos. Franqueza e falta de malicia. Aluno exemplar, piedoso, querido, obediente à disciplina, fora, como de costume chamado à diretoria. Entrevista com o padre diretor, ouvir queixas, dar conselhos, orientações. Entrara no seminário por ser pobre, estudar de graça; Que a vida de estudo e oração lhe dera vocação de verdade; Que estava sofrendo pressões da família pra sair do seminário; Que queria ser frade e pedia ajuda espiritual. O capucho cofiou a barba, pensativo, o Cristo, lívido e ensanguentado, contorcido na cruz ouviu o silêncio na sala. Quanto vale ser honesto? Mandado embora. A que serves, honestidade? Quantos dissabores? Vale a pena? Assim n´A Feijoada. Não gostara da gororoba de Madame Corine. O olho da rua. Ser honesto não é dizer a verdade, é não dizer mentiras. Razão, com Jussiê, cabra curtido no Vale do Cariri. Imbecil fora, merda é fácil, merde, ela entendeu. Gororoba, ela nunca iria entender. A velha Corine substituíra Jean que fora se engajar no exército. Se ele ainda estivesse lá não teria sido despedido.
Corria à boca pequena, Mr. Kiefer teria sido
amante de Madame Faure. Havia, por isso,
uma nesga de ciúme em Claude. Bastava ele vir jantar chez madame, quero dizer
na Feijoada. Sentia-se. Madame se desmanchava em gentilezas. Ah! O sobretudo. Ele mo deu, Mr. Kiefer. Feito
por encomenda de Maurice Chevalier. Vestira
duas ou três vezes, devolvendo-o por ter-se enjoado dele. Rico enjoa fácil. Pobre, enjoado
ou não tem que aguentar o rojão. Um par-dessus azul-marinho, forro de fina seda,
no Maurice, alto e elegante, caía bem
nos seus 76 anos. Eu, um caniço, miúdo, sumia dentro dele. O peso curvava-me o
tronco. Quem sabe a lombalgia de agora, não
seja sequela da sobreveste? Gostava
dela, orgulho de ter pertencido a Chevalier. Mr. Kiefer orgulhava-se de seu
corte. Não poucos elogiavam sua linha. Bem talhado, iria apenas adaptá-lo a meu corpo. Lástima, nunca o fizera. Sumido nesta veste,
correr Paris, buscar trabalho, comida. Hora maldita, esta briga com madame. Errei?
Orgulho. Perdão não peço. Comida, orgulho dos franceses. Eu disse merda pra
comida, fui despedido. Orgulho e timidez a vós devo o fracasso. O erro existe pra
nos ensinar. Quem não o reconhece, nada aprende, nem vai a lugar nenhum.
Continuação no livro NOITE EM PARIS, breve nas livrarias.
Continuação no livro NOITE EM PARIS, breve nas livrarias.