Eu me chamo Flordelis, nem precisaria dizer. A mídia, mais fofoqueira de que noticiosa, se encarregou de fazer a minha fama, não a fama que persegui e consegui com meu trabalho e meus esforços, a fama pelo infortúnio que qualquer homem pode passar. Hoje tou triste, muito triste. Os abutres que se banquetearam de minha desdita, não satisfeitos com o banquete, roem, os ossos. Buscam tirar de mim tudo o que produzi com lágrimas, suor e sangue. Hoje, vejo que, apenas queriam de mim, a fama e o dinheiro que ela trazia.
sábado, 28 de junho de 2025
Tu viu, Mancambira? A mentira tem pernas curtas! O cara não errou o nome da cidade onde teria tomado a facada? Como diz Ruy Barbosa: “A mentira não sabe como se safe das suas próprias armadilhas. Sempre se disse que mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo”. Não se há de esquecer o princípio budista: aquele que fica parado, vence. Portanto, sem pressa. A verdade virá.
quarta-feira, 25 de junho de 2025
terça-feira, 24 de junho de 2025
JULIANA MARINS
Juliana, eu te compreendo o sonho inatingível. Como tu, Mancambira, queria correr o largo deste mundo, mas prendeu-te ao chão o pélago profundo. O destino que tens de querer o impossível é igual a este meu de querer ser feliz. Ah! infeliz Juca do Mato, ah! Infeliz Juliana Marins, murchos são estes teus sonhos, murchos são os sonhos meus.
sábado, 21 de junho de 2025
SE ME LEMBRO
Descendo a Rua Chile, nem chega a ser uma descida, uma ligeira inclinação já perto da Castro Alves, entro na sub-loja procurar Sergipe e sinto que caí numa armadilha. Todos de preto, tudo era preto. Eu ali, parado sem saber o que fazer. Descera para salvar (lembrei-me d’ACF) dois gatos, mas quando me dei conta, tinha escorregado numa escarpa íngreme, e, nem gato nem nada. O chão, uma lama, logo percebi ser chocolate derretido, doce, gostoso e quente. Minha xala, que ia na frente, escorregou e caiu estatelada no chocolate. Ela começou a se lamber para se livrar do chocolate por todo o corpo. Ela, minha tia materna, nos fazia rir.
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Foi-se, Mancambira. Entregou-se à mãe terra, ou o entregaram, pois, duvido que ele, de moto próprio, tenha-se entregado, ou tenha escolhido o bom descanso. Prumodisto, não desejo que alguém descanse em paz. Morto não tem descanso, nem cansaço, nem vontade de escolher. E se escolher pudesse, escolheria, juro, o cansaço da vida. Que adiantam, agora, os gritos, as lamentações? Não os ouvirá, ele, não os ouvirá. Jamais. Vai, Cuoco! Vai? Levem-no! Ele não é mais. Nada mais sente!
segunda-feira, 16 de junho de 2025
Não existe regência no verbo conhecer, ele é transitivo direto, logo não precisa de preposição para ser compreendido, portanto, a preposição sobre não cabe aqui. Por esta razão, Mancambira, o correto é dizer: conheço isto, conheço aquilo. Eu sei, professor, mas está moda usar a preposição sobre em tudo. É, Zé Mancambira, a moda passa e você fica. Ultrapassado, você quer dizer, né, mestre Horusdidi? Isto mesmo, Mancambira.
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Eita mundo veio loco, né, Frei Tiodoro? Louco e desumano, Mancambira. Que diferença há entre Oxosse incorporar-se num corpo humano é Jesus Cristo incorporar-se num pedaço de pão? Qual é mais louco? Levém coisa, nunca vi um padre falar tanta baboseira. E quem te disse que foi Frei Teodoro que falou isto? Num foi ele não, rapá, foi Cirilo aquele descrente? Ah, foi o excomungado? E quem te disse que Cirilo é excomungado? Um zombeteiro, nem sabe o que está dizendo. É, se olhar bem, é difícil aceitar que Jesus esteja de corpo inteiro num biscoito fino daquele. Hahahaha. Rindo de quê, cara pálida? De um terremoto. Estavam assistindo a uma missa no Peru e de repente a terra começou a tremer. Perna praquê te quero? Não ficou um só fiel na igreja. Nest’hora não há Deus certo, Mancambira.
domingo, 1 de junho de 2025
HIPÁCIA
Hipácia
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Pá, impávida, Papá, era Hipácia de batismo e certidão de cartório. Gostava de chás e sorvetes, mas aqui, não sendo muito comum casas de chá como acontece na Europa, ela então, ia com frequência, com seus amigos tomar sorvete na Ribeira. Era, deveras, uma viagem, como se fosse uma outra cidade. Só o trajeto valia pena, não tanto como na época dos bondes, mas ainda assim, muito pitoresca. Saia-se da Praça Visconde de Cairu, passava-se por Água de Meninos, pelo belo conjunto barroco da Casa Pia de São Joaquim, pela Calçada, passando em frente à Estação Ferroviária, seguindo-se pelo Mares, Barão de Cotegipe, Boa Viagem, Bonfim até chegar na Ribeira. Lá os esperavam as sorveterias e os saveiros emoldurando a paisagem. Viajar, como diz Zé Mancambira, é como abrir as páginas de um livro. E quem é Zé Mancambira, Pá? Um cara que mal sabe ler, no entanto, mais que todos nós, conhece a vida. Ele compara o mundo com um livro e cada viagem como uma página deste livro. Ah! A gente precisa conhecê-lo. Pessoalmente, impossível. É um personagem do romance Noite em Paris de Deus Carmo. Têm que ler o livro. Rolaram pelo chão. Na Sorveteria, Pá, mais encantada com as cores, do que mesmo com os sabores dos sorvetes, perdia-se na contemplação deles, experimentando sofregamente, cada sabor, que a deixava mais indecisa. Eram séculos e séculos por se decidir. E quem não titubeia ante um festival de cores e sabores dês que se inventou a shurba? Sim palavra sorvete veio do árabe através do turco sherbet até chegar até nós e teria sido inventado pelos persas e trazido para o ocidente por Alexandre, o Grande, embora também a China tivesse inventado uma bebida feita de neve, mel e sucos de frutas. Dá era todo olhos para Pá e ela percebia isto, mas em momento algum lhe dava mais atenção do que dava aos demais colegas amigos e era justamente isto que os fascinava. Dá, muito embora não se tenha esquecido de Aimar, era o mais fervoroso dos admiradores. Quem, realmente esquece seu primeiro amor, mesmo que não tenha sido correspondido? Assim é, e parece, assim será, porque. mudam-se os tempos, mas o homem, este não muda ou pouco muda. Pá, seus olhos verdes, cruéis, tentadores faziam-lhe, momentaneamente, esquecer-se de sua primeira paixão. E embora, nada tivesse com ela, sentia ciúmes, sentia-se traído. Ninguém estava ali, de olho em alguém, somente ele era assim. Falta de costume. Não fora criado com mulheres, estudara o tempo todo em colégio interno, onde não estudava meninas, e, por isto ainda não aprenderá a lidar com suas novas colegas. O sistema educacional de colégios internos só para meninos e meninas tinham inconveniente de segregar os jovens causando desvio comportamental, tornando os jovens de ambos os sexos, tímidos, com dificuldades de lidar com o sexo oposto. Saído do internato, era o mais tímido, o mais apaixonado, o mais temeroso de receber um não, o mais arredio à moda que, de certa forma, integrava o jovem no meio jovem. Quem não seguisse a moda, estava, fadado a seguir discriminado. Tinha consciência disto e até mesmo ouvira dos colegas comentários a respeito de um que não se vestia conforme a moda e andava falando de poesia e de literatura. Este cara parece ser do século passado, diziam e se riam dele. Eu me perguntava, o que dizem de mim, quando não estou presente? Sim, porque toda ausência é atrevida. Voltemos à Ribeira e enquanto saboreamos nosso sorvete, caminhemos pela Enseada dos Taineiros, façamos uma visita ao Solar Amado Bahia, visitemos o conjunto colonial barroco da Igreja Nossa Senhora da Penha, um pulinho à Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat, uma das únicas com um alpendre na frente para proteção do sol e da chuva e o passeio completo e a vontade de tomar outro sorvete.
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Eram sete. Quatro meninas e três meninos, todos entre 18 e 19 anos. Saídos do ensino médio, outros, já em faculdades. Um, havia, que tinha um apelido incomum e interessante, cornaca. Espera, não é nada do que você está pensando. Estudava veterinária e queria ser tratador de elefantes, portanto, cornaca. A Bahia é outro mundo. No Ceará não tem disto não, não tem disto não. Imagina alguma coisa? Na Bahia tem, inclusive amansa-cobras. Como todos no Brasil têm seu apelidos, uns carinhosos, outros de duplo sentido e ainda os perversos que enfureciam seus donos. Havia-os de toda forma: Bundào, para um que tinha aquela parte do corpo muito avantajada; Everest era um que tinha seu órgão de sentar-se maior que os demais; Baiacu, um sujeito baixinho e grosso; gorilão, despensa comentários.Ah! Tempo bom. A intica corria solta e nada acontecia, uns poucos se insurgia contra os apelidos e a intica, no demais era só pura brincadeira. Hoje, intica virou búlingue e é crime. Inventaram um tal de assédio que castrou a veia cômica do povo brasileiro.