quarta-feira, 15 de agosto de 2018











                                                      
                                                       
E como não lhe davam pedrinhas para comer misturada à ração diária, as aves passaram a comer areia, pedaços de metal, vidro, ossos, pedaços de ladrilho e tudo que encontravam para substituir as pedras de que necessitavam para a trituração dos alimentos. Assim, estes objetos se quedavam na moela, pois não  eram digeridos pelo suco gástrico e às vezes chegavam a obstruir o intestino. As pobres  aves ficavam então tristes, penas ouriçadas, asas caídas, cambaleantes, sem fome, sem defecar ou com diarreia e depois morriam como gado que pela seca, comia pano, papel, papelão, borracha e plásticos. Iam ficando tristes, pesados, lentos, preguiçosos e caíam para não mais levantar. Morto, abria-se o bucho, incrível aonde leva  a fome. Com fome, também o homem faz coisas que ele próprio duvidaria. Como cães comem as próprias fezes, sedentos bebem a própria urina.  Nas noites de Paris, corrido da Feijoada, corria atrás de pratos pra lavar por comida. Enxotado por uns, acolhido por outros. Comer, inda levar para Jussiê,  envergonhado de Quixeramobim. Filho de padre e freira. Trígamo guloso. Aventureiro, irias morrer se fosses  a Florida de jangada, mesmo com rezas ao Nkisi Tempo, Viracocha, Anubis. Tu não atravessarias o Vale. Que sorte, quantos não morreram enterrados nos claustros. Olorum didê. Ficastes para contar.
Estou contando a história de Jussiê, com 18 anos,  analfabeto e aos trinta encontrado na Sorbonne, Universidade de Paris estudando letras e literatura francesa. Falava-me  de seus 11 irmãos, criados no Quixeramobim, terra dos quixarás, comendo jerimum, tocando todos, algum instrumento, que padre e freira revoltados proibiram de estudar.