sábado, 26 de julho de 2025

PRETA GIL

      





              O cara não atende ao telefone. Cada maluco, sua mania. Mundo louco, chose de lôque, como dizia, Jô Soares. Fui obrigado a mudar de telefone, o cara não ligação de desconhecido. Alô! ACF! Convidado já, sem chance de magoar. Para quê? Tem um colega que só de palitó preto. E daí? Daí que ele está sempre preparado para ir a um enterro. É louco, ele? É, como eu, como você. E o convite? É pra irmos a um. Quem morreu? Nem eu, nem você, conhece. E o que a gente vai fazer lá? Ver gente. Coisa que a gente não vê, você porquê dos bichos, eu, porquê da cama. Bom isto é verdade. Mas, quem morreu mesmo? Já ando traumatizado, nem mesmo, esqueci de um, vem você me chamar pra outro. Não, não vou. Mas não vai ser no Rio? Não vem pra Bahia! Se for no Rio a esta altura já foi enterrada. Mas eu, nem gostava tanto dela! Tampouco eu, ACF, mas, sei lá, é um pedaço da Bahia. É nestas horas que devemos estar juntos, meditar juntos, chorar juntos e descobrir juntos nossas diferenças e fortalecermos nossos laços. É isto que forma um povo, uma nação. Não esperemos que os líderes nos chamem a participar da vida do país, tomemos nos a dianteira. É, cara, foi enterrada ontem mesmo no Rio, só não te liguei porque de sua mania de hora pra tudo, até pra cagar. Quero ver se você vai poder definir a hora de morrer. Nem RIP digo. Ela, nem sabe. Aqui não mais está. Que choram por ela. Como desejar seu descanso? Nem a ela, nem a mim engano, somente aos outros. Quem fica chora, quem parte nem sabe que partiu. E io, na cama, um tempão, assim, eu. Acostumar o corpo pra gaveta. E vou eu aguentar? A claustrofobia me mata. Uma coisa é certa: imbecil o padre que criticou os prixás por não terem ressuscitado a Preta Gil. Por acaso, ele já viu alguém ressuscitar um morto em nome Jesus Cristo?

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