sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

A GRILAGEM DA EÓLICA

                                     I










                         Você viu, Mancambira? Não posso ter visto o que não sei o que é. E nem vai saber. Hoje, basta sonharem que você tornou público um crime para te cancelarem, te processarem, se não te matarem. Por isso, caluda! Nem cobras, nem lagartos sairão desta minha boca linda, que a terra há de comer. Niente, viu Seu Zé Mancambira? Vixe, cabeluda, antão, Didi! Que vá ao Google, o curioso. Contar só o milagre, o santo, psiu. Uma tabeliã,  triste Bahia! ó quão dessemelhante / Estás e estou do nosso antigos estado! / Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, / Rica te vi eu já, tu a mi abundante. Muito triste, Gregório. Corrompida por um empresário, falsificou uma escritura transferindo um pouco mais de 34 mil hectares de terra para uma empresa de energia eólica, deixando ao léu, muita gente. Sei lá, 700, talvez mais. Proprietários, herdeiros, posseiros de terras abocanhadas pela empresa. Vixe, Didi, é verdade? E depois, só o político é ladrão! Isto me revolta! E onde foi isto, Didi? Não me perguntes. Utilizaram-se de uma idosa. (Como sempre, vítimas dos sabidões). Ela, coitada, enem ler, sabia. Aprendeu, como muitos, a desenhar o nome para votar. E pode, Doutor? Claro, você sabe chinês ou Japonês, Mancambira? Bem verdade, não? Pois, dou-lhe palavra em chinês ou japonês. Você começa a copiar, copiar. Com o tempo você será capaz de escrever palavra, sem nem ao saber seu significado. Assim, cá. Analfabetos, de montão, existem. Inábeis para a leitura, porém, treinados para assinar o nome. Assim, Noná. Iletrada, simplória, beirando a idiotice, mas burro de carga de toda a família, que proprietária de grandes extensa de terra, vivia frugalmente, sem explorar as terras num sertão de secas anuais, conhecida como ricos pobres. O desenvolvimento da tecnologia de aproveitamento da energia eólica, suas terras, no maciço central, se valorizaram, surgindo,  na região, empresas de energia eólica, comprando terras a preço baixo, e, com ajuda de policiais e o beneplácito de serventuários da justiça, intimidam e ameaçam pessoas para venderem suas terras. Briga entre parentes, desagregadora nociva e dolorosa, por romper laços seculares de afeto e comunidade. Foi o que fez a Eólica. Hoje, brigam irmãos, tios, sobrinhos e primos, e por causa disto cincos pessoas já estão no cemitério, que idosos, não suportaram a pressão da eólica. A Noná mesmo, utilizada pela eólica para tomar as terras da família, viveu tranquila desde que “vendeu” 34 mil hectares de terras da família.  Quando a Noná foi depor no Processo Administrativo Disciplinar (PAD) a tabeliã, ficou sabendo. Tinha “vendido” as terras da família. E daí adoeceu. Não durou um mês. O começo. Um primo seu, procurou sua filha. Para documentar uma pequena posse de terra, queria uma escritura de Noná, oferecendo-lhe uma quantia dinheiro. E ela, a filha da Noná, não tio, não precisa pagar nada, Mainha dá. Quando estiver pronta, escritura, trago aqui prá Noná assinar. Alguns depois estava assinada a escritura. O pedaço de terra se tornou 34 mil hectares de terras. Noná sem saber vendera todas as terras da família, como se única herdeira fosse. A Tabeliã da capital faz uma escritura de compra e venda e manda-a, por um particular, para colher a assinatura da Noná no interior. Não existe a figura de preposto de tabelião, nem tem o tabelião jurisdição em outra comarca. Ela, a tabeliã, poderia, e pode, lavrar escritura de compra e venda de imóvel situado em qualquer do país, desde que o proprietário compareça à sua serventia e assine a escritura em sua presença para que ela possa dar por fé o ato. Do jeito que ela fez, terminou por ferir a legislação do país várias vezes, como o artigo 297 do Código Penal, o art.108 do Estatuto do Idoso, os artigos 1°, 4°, 30, inciso XIV e art.31, incisos I, II e V da Lei-8935/94 e os artigos 3°, 97, inc.II, 98, inc.I, art.110 e 118 do Código de Normas do Estado. É muita infração para uma tabeliã só, viu, Senhora? O mundo, uma quadrilha, a pessoa um refém. Lutar contra esta quadrilha, é pedir pra morrer.

(Continuação, em seguida)


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