Mundo! Um bostil, uma gaiola apinhada de loucos. Nem pr’onde voar, nem nonde pisar. Não se embostar por inteiro. Avia-te, rapaz! Tanta lamúria! já fez, hoje, sua parte? Como quer ver bondades?E quem pode? Se tu limpas, aqui, um toloco, outro aparecerá noutro lugar. E depois, melhor cuidar que curar. Este, mata a galinha dos ovos de ouro, aquele a mina do ouro. Lixo de mundo, Zé Raimundo! Indassim, gosto. Com toda imundície. Quem sabe o depois? Alguém veio d’outro mundo nos dizer? Eu quero viver, neste monturo. Pois, chutar só não, resolve, ele estará sempre em nossa frente, empesteando teu ar, turvando minha vista. Melhor, seria livrar-se de uma vez, de quem tu, assim, nomeias. Alguém já fez isto antes, e deu no que deu. Por quê? O que tu chamas de lixo, não o é para outros. E corres o perigo de seres tu, o caçado como lixo. Um beco sem saída. Há-de-se conformar. Quem maior tiver as unhas, que suba na parede. Ah! mundacho veio torto, né Frei Teodoro? E ai de quem a ele se oponha. Será, o pobre coitado, impiedosamente pisoteado. O efeito rebanho contra o indivíduo, por mais correto que esteja. E a esmo, vamos nós, que o passeio, não vire obrigação e perca seu verdadeiro fito. Na ponte, um beleguim pega, pelo cavalo da calça, um estafeta e o atiça ao rio, e, nada pudemos fazer, embora o quiséssemos. Seria mais um ou dois a beber do Rio das Tripas a água batizada com os dejetos do mais chique Shopping da cidade. Andemos. Andar é bom, dizia Nietzshe, que costumava escrever passeando, para o corpo e para a mente. Olha ali, Didi, fogo, fogo, no Shopping Sete Portas. Vixe, no terreiro. No Ilê Intilê. Crentes, a Bíblia na mão, na outra, torcha ardente, incendeiam a Casa de Xangô. Iá Detá, Iá Cala, Iá Nassô, Babá Assicá e Bamboxê Obiticô, tentam salvar os objetos sagrados do culto, enquanto gritam para chamarem os bombeiros, chamarem a polícia. E mais uma vez, nada pudemos fazer. Uma onda de crentes enfurecidos ameaçavam quem se aproximasse para dar socorro. Chegou a Polícia, depois os bombeiros, dispersando, violentamente, as pessoas, mas sem efetuar prisões, mesmo de quem ainda se encontrava com a tocha incendiária nas mãos. Desamparados, impotentes, seguimos, em silêncio nossa caminhada até a igreja do hospício da Piedade, onde estudara, eu, por um tempo, no Seminário dos Capuchinhos. Olhava, meditativo para os altares, onde ajudava na celebração de missas quando, uma beata, empunhando um enorme crucifixo, brandiu-o contra minha cabeça, gritando: louco, louco, herege maluco, anticristo, disse que Jesus Cristo era filho de um soldado romano com a Virgem Maria e São José, um corno. Vi o sangue escorrer pela testa e o depois, o acordar numa cama de hospital, atordoado, porém, contente. Alguém, finalmente, havia lido meu livro, Eu me Chamo Celso.
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