sexta-feira, 12 de abril de 2024

 



                  Eu dormi em cima do sono. Estava eu num asparte? Juro que não sei. Só me lembro da creba da despensa lá de casa, obrigando a gente se mudar pra Rua  Nova, na casa de Seu Agenor, pegada com a padaria de Baio, que se mudara pra Pintadas. Agenor, único fogueteiro de Capela, era cheio de goga e mentia quiçó, vivia dizendo ser o melhor da região, obrigando o povo de Capela comprar foguetes em sua mão. Não me pergunte mais nada, abegue. Mamãe alugou a casa dele por enquanto consertava a nossa. Isto foi, cheu ver, quando papai, em razão do fiado, teve de fechar a loja e fugir dos credores, tentando, fora, ganhar dinheiro e poder pagar seus débitos, deixando em casa, um caderno de cheio de notas do fiado. Papai foi pro Rio de Janeiro e disse pra mamãe cobrar o fiado., para que mamãe cobrasse aos devedores. Ih, se me lembro. Mamãe, muito chorosa, me acordando, procurar papai. Foi encontrado em Feira, envergonhado pelos débitos e pela fuga. Ah, o valor do aluguer? Sei lá, um ceitil, por fechada um bocado de tempo. Eu, vou dizer, gostava de lá. Pegada à padaria de Baio, ele me sobras de pão e de biscoito; N’outro lado, a quitanda de Zé de Liodoro, também me dava sobras de frutas passadas. Ali, Zé de Danié, que pouco ou nada sabia ler, pegou dum pedaço de jornal e de cabeça para baixo, só de mulequeira, começou a ler a história da surra que deu D. Rofa em Maria Pinhão, rapariga de Mané Gongom, seu marido. Ela tanto, de manguá bateu na Pinhão que esta ficou roça. O fato foi verdadeiro, mas o danado do Zé inventava coisas para fazer a gente rir. Zé de Danié,  turipa de primeira, sabia contar uma história para se rir. Não havia quem não se risse de suas invencionices. Quando chegava no almansafe, ele dava uma parada e observava a gente morrer de rir. Aí, meninos, homens e mulheres gritavam pra ele contar o resto que nunca se sabia o fim, porque cada vez que ele contava, era um forma diferente. O muleque, se tivesse estudado, seria um grande escritor. Hora ele parava, de charme, porque ele estava cansado. Pura mentira. Só para aguçar a curiosidade dos ouvintes. Zé Mancambira,  parente de Mané Gongom, se desmanchava de ri. Dé de Cornélio, mordendo o indicador dobrado, imitando Mané Gongom, ah se eu te pegar, muleque, ah se eu te pegar. Era uma gargalhada só. Ah, Capela, camanha vida tiv’eu ali! Didi. Eu digo. E tu, Mancambira? E que digo? E direi-vos, agora’, amigo, camanho temp’ há passado! E. Muito triste, terceira mundial. E. Vejam, quem deu causa a elas?



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