quarta-feira, 25 de março de 2020

MENINOS, EU VI













                    

                               O índio chorou, o nego pranteou, Neco Preto lamuriou, Zé Mancambira se lastimou, Maria Cagona s´esperneou, Zé Pretinho choramingou, o mandacaru soluçou, a cassutinga lacrimou, o alecrim suplicou, o caroá gotejou, a aroeira nunca parou, o tatu se estrebuchou, o gambá gritou, a jiboia se esfolou. Tudo, tudo chorou, chorou, menos o branco de cabeça, que ninguém aqui é branco, viu arder o mato e gozou. Não foi biatatá, não foi. Meninos, eu vi. Meu canto de morte, guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, nas selvas cresci; Guerreiros, descendo da tribo tupi.

segunda-feira, 23 de março de 2020

IL GRIDO











 como


                                   Tempo de famina, milhares morrerão. O luxo, o vinho dos banquetes, o oiro amealhado, tudo, tudo irá ao mar profundo, como em Pompeia e Herculano, avaladas por larvas do Vesúvio. Assim, de derrota em derrota, atravessando a borrasca, mais fortes nos tornamos e, os que ficam, relatarão com empáfia, bravura e destemor fatos nem sempre conforme o acontecido, acrescentados pelo orgulho de sempre, e, voltarão as sandices e sandices e as sandices que o homem não aprenderá nem com a guerra nem com fome, nem com as donças, com nada, e, portanto, deixar morrer como faz o Ocidente  com os góis, hoje na Ucrãnia. Guerra também é negócio e lucrativo. Oh, que digo eu? O homem não aprende? .

sábado, 21 de março de 2020

ÁUGURE ENCANADO
















                                        Seu Rube dançava o carnaval, fantasiado, lembro vagamente as cores, verde, vermelho, rosa, do Ponto da Mangueira um estandarte na mão, ô afilá lá ê, ô, pedia uma cachaça e lá se ia cantando pegar o ônibus na Vasco. O tempo, aproveitar. Um dia vai chegar. Ninguém vai poder pisar os pés na rua. Sim, depois do ano dois mil. Uma senhora de mil cabeças, cuspindo fogo, quem lhe chega perto, só do seu ar, morrerá, porque não tem remédio, nem o homem vai descobrir, porque ela muda de cor, se transforma. Dona Morena mangando dele, profecia de bebum. Em Gandu havia um outro Rube, de tanto beber apelidaram-no de Pau-Vestido, e bebo passava, também, a dizer o futuro. Áugures da cana.








        
                           

sexta-feira, 20 de março de 2020


















                                            De bellum, de incendio mundi per coronavirus, tu viste? E estão dizendo por aí que Nostradamus havia profetizado esta praga em sua obra. Disto não tenho certeza, talvez a tenha previsto Antonio Conselheiro. O sertão vai virar mar e o mar virar sertão. Mundão de perna pra riba. Pessoas apavoradas com mosquitos invisíveis que se agarram à gente, entra em nosso corpo, tomando o ar, incendiando o mundo. Que fizemos nós? Diz Mancambira. bellum, bella. Não entendi. Guerra, guerras. O homem em eterna guerra. Ganhar, ganhar. Ninguém quer ser cú, todo mundo só quer ser pica. Não dá, não dá. Pára tudo, começar de novo. Quem fez isto, fez errado. Rapaz, tu tá doido? Vocês não andam dizendo que sou doido, que falo sozinho? Logo que doido sou, deixa eu falar o que quero. Falo o que vejo, não tenho se você não vê o que vejo. Vejo e ouço, porque me dizem coisas. Quem te fala estas coisas, Mancambira? Eles. Eles, quem? E eu sei? Pessoas que não conheço, mas vejo sempre e falam comigo. E como são estas pessoas, Zé Macambira? Gente como nós. E em que língua te falam, Zé? E eu sei lá, sei que entendo o que falam. Nós falamos português, Zé. E lá sei eu? Não somos brasileiros? Porreta,esta.

sábado, 14 de março de 2020

















                                           O finado Castelo Branco pegou Aloísio e de manguá na mão, começou a bater. Ele na frente e o finado atrás, mas batia, batia, e quanto mais batia, mais ele gania, gania como um cão danado. Quem foi seu Napoleão? O presidente batendo em Aloísio. Verdade, Seu Napoleão? Cruzando os dedos, juro por esta cruz. Quero que façam o mesmo com o prefeito, que quer roubar a lagoa de Baio. Como hoje, quem estiver em seu canto, aí fique. Se se meter, não saia, perquè o fim é anunciado. Nunca foi diferente, entra quem quer, iniciado, não há volta. Quem extrapolar sua besonha, apunhalado será. Um nó extirpado. E nem adianta chorar, pode sobrar pra quem fica. Eu me calo, dizer nada, eu disse nada, nada é nada, pronto. Senão, me calam. Tantas são as maneiras, tantas. Tirem do ar, tirem do ar.

quarta-feira, 11 de março de 2020










                                           Desemprego, guerra, militares, enquanto houver tudo isto, nós não somos nada, nada. Fronteiras, inimigos, criações imbecís. Eu vi, armados até os dentes,  mil soldados a hurlar refrões de guerra, a massacrar seu povo, vingando morte de um dos seus. Retorno a Hamurabi, 1770 anos antes de Cristo. Para isto os pagamos? Cão de mundo. Bem-vinda, corona. Faz teu trabalho, coronavírus, inda que comas os mais lindos olhos, as mais lindas curvas, os mais possantes músculos. Muito generoso, tu, perto da fome.  God! Gosh! O Déu.

sábado, 7 de março de 2020














         
                                           Cuidado Mallika, no Paraguai, Ronaldinho só mostrou os dentes. O Drauzio, apenas, um abraço. Não entre na Maré, ela não está pra peixe. Faz besteira a vida inteira, agora pede, chorando, apoio, medo, quem tem, tem. Até de respirar há-de se temer. Pode-se estar roubando o ar do outro. Tu vens? Tu vens, Cego Aderaldo? Cantar o Nordeste.

quinta-feira, 5 de março de 2020













                             O frevo fervendo na rua, Antonio Nóbrega fazendo piruetas no violino, nas pernas, no corpo de linho branco, o baeta na cabeça, que não cai, nem o lenço no bolso do palitó. Oh, Capela como me lembro de ti, os primeiros acordes do frevo, a poeira comendo, talvez, por isto, alegretriste. Oh, não voltar a ser criança, mas qui sodade danada, danenta de saudade.

segunda-feira, 2 de março de 2020












                    

                                    Vercingetórix não esperou Roma arrastá-lo de punhos atados até César. Garboso em seu cavalo paramentado para a batalha e vestindo sua melhor armadura, deixou sua cidade, atravessou o acampamento e chegado ao lugar onde estava César, saltou do cavalo, tomou da espada, do dardo e do capacete e os atirou aos pés do romano.

domingo, 1 de março de 2020
















                                           Não acredito no que se fala. Miguelina, não. Não aderir à patuleia, ávida de escândalos. Chegar onde chegou, não cai facilmente. Se for, telhado de vidro, que não tem? Ainda não me disse nada, até estranhei, ocupações, dirá quando quiser. Mundo, onde vamos chegar? Hasta quando? Tu, não. Eu? Miguelina, pernambucana? Pegar nisto, nunquinha! When I am laid, am laid in earth, may my wrongs create no trouble, no trouble in, thy breast.