quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

 



Onde quer que estejam, Mancambira; Seja lá, quem for; nenhuma palavra mais. Deus está-nos testando para ver o quanto temos de fé; oxente! É mentira, então, que Deus saiba tudo? Kisiki hai é tronco vivo na Tanzânia. Quando eu me cortava sentia um alívio momentâneo, como se eu tivesse conseguido externar o que não havia conseguido. Viciante. Era. Só parei quando o psiquiatra me orientou de segurar gelo. Toda que me dava vontade de me cortar, corria a segurar gelo. Foi um processo demorado, mas consegui. Tinha medo e acho, tenho ainda, de surtar e não voltar à normalidade. Ouço bem longe, Nelson Gonçalves, algum octogenário ouve a Volta do Boêmio, não sabia que ele tinha sido preso por drogas, viciado, nem que tinha sido boxeador. O brasileiro tem de aprender uma luta para saber defender-se, hoje,  viver, um perigo é só tu te defendes nestas horas. Se não puderes correr, não morra, mate. Louro, matou Lica com uma machadada. Machadada de amor, antes ninguém sabia que a amava. Foi no Boul’Mich, alguém me pára. Uma informação. Levo você, lá. Não precisa. Vou pra perto. O que é a vida. Nos tornamos amigos. Um dia, sorrindo me disse. Quando mais jovem pedia a Deus uma  bicicleta. Deus nunca me dava. Então, roubei uma e lhe pedi perdão. Você fala tuyuca? Nunca nem ouvi falar. E você, Mancambira. Ave Maria, mãe de Deus  rogai a Jesus por eu, como Antõe Cego. Encontro com uns colegas da justiça federal, em congresso, em Salvador, enquanto conversava com alguns, um gritou, ei, gente, onde foi que vocês arranjaram este cascabulho. Nem esperei qualquer resposta. Rapaz, paro dar atenção vocês e você me vem esta xenofobia na minha própria terra? Você diz isto porque está em turma, me acompanhe e venha repetir o que disse. Fui saindo. Olhei para traz. Ele não me seguiu. Ainda bem que acordei. Entre uma e outra cusparada, o velho Tunim Gomes dizia: Quem compra atestado, também é desonesto, Mancambira. Matem os cães, antes adoeçam. Melhor orar na minha quêrque,  quem sabe não vou pro valhala onde serei levado pelas Valquírias esperar o ragnaroque. Queira Odim que sim. E vocês? Por quê me perguntam isto? Se ainda corro atrás das negas?  Digo como Woody Allen, se corro? Corro, mas esqueci o porquê?



sábado, 1 de novembro de 2025

 

IDEIA de Juju Róis




Esta manhã acordei pensando ser o maior dos heróis, nem sei quem eu era exatamente, sim que eu era muitos, todos com diversos poderes. Poderes que se dispersavam e agora me via na Rua do Buraco, em Gandu dos jacarés e do Corujão, onde nasci, arrumando-me para o Polivalente, onde estudava. Que eu adore acordar cedo, nem vou falar, porquê mesmo sem aula, tenho de madrugar para trabalhar. Em verdade, nem de estudar, nem de trabalhar, eu gosto. Bom mesmo é não fazer nada obrigado, fazer só o que se gosta, no meu caso, preciso ajudar nas despesas de casa, e, assim, o jeito é fazer um outro e outro e tentar gostar. Não tenho escolha, me chamou tou dentro. Mais novo  gostava de comprar. As pessoas davam o dinheiro. Eu pechinchava até  conseguir um desconto e recebia um troço que sempre ficava pra mim. Diziam você conseguiu, fique você. Tem de jeito pra tudo. Por isto, puseram-me o apelido de Zé Pechincha. Não me importo, o importante é ganhar e um real a mais, não faz mal a ninguém. Não é assim que galinha enche o papo? O que gostaria mesmo era de ser um mago, estalar o dedo e a coisa aparecer. Mas deixa eu me arrumar, um ovo com farinha, café e banana para desjejum. Nós comemos  pouco pão, caro, nem sempre se tempo nem grana. Trago, às vezesque trago, às vezes, quando peço pra ajudar na padaria. Cortar, carregar e empilhar a lenha pra não molhar; pô-la no forno, esperar fazer a brasa, encher os cestos, muita  coisa, eu gostava muito. Também gostava de trabalhar na saboaria de Seu Almir. Era com lenha também, mas para cozinhar os ossos, apurar o sebo e fazer o sabão. O que eu mais gosto de fazer é ensinar aos meninos a fazer seus deveres e atividades. Descobri que aprendia mais rápido de que todo mundo. E foi daí pensei ensinar, inicialmente, de graça, depois comecei a cobrar. Os país não gostavam de pagar, achando que eu não soubesse da matéria, mas quando mostrei que sabia e que não podia deixar outro trabalho para não ganhar nada, ensinando, eles passaram a me pagar por banca. Muitos me davam os livros e estudava antes toda a atividade e outros assuntos. Havia sempre um que demorava de pagar, mas eu cobrava e eles pagavam. As pessoas me perguntavam como eu aprendia e eu não sabia, apenas dizia que aprendia lendo. Era fato, tudo que lia, via ou ouvia não esquecia mais. Uma conversa na rua, no rádio ou na televisão era o suficiente para não mais esquecer. E ainda quando não entendia sempre perguntava aos professores que nem sempre queriam explicar na aula, mas alguns explicavam depois das aulas. Fui aprendendo que saber dava mais respeito.



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                   NA ESCOLA 



                Acordei cedo, mas terminei chegando atrasado. Aula de História.  

                    A professora parecia não gostar muito de mim. 

                    - Você  aí, seu atrasadinho, qual foram os indígenas que comeram o bispo Dom Pêro Fernandes Sardinha? 

                                 Me lembrei da piada, mas não quis arriscar ser o engraçadinho e responde firmemente:

                               -  Foram os índios Caetés de Alagoas, professora.

                      Quebrou a cara pensou que eu não acertar. Não sei porque ela implicou comigo, deve ser porque chego atrasado na primeira aula. Ela não sabe, ou faz de conta que não o sacrifício que faço para estudar. Criado com vó, ainda tenho de cuidar dela antes de sair. Às vezes, na aula, eu me distraio, viajo na maionese, a professora percebe e me pergunta alguma coisa, parece que eu adivinho, eu sempre respondo certo. Todos ficam impressionados, inclusive ela, que tenta me pegar com uma pergunta difícil. Eu não faço porque quero, para abusar, me acontece a distração, as viagens da minha mente. Agora mesmo estava pensando num sonho desta noite. Uns meninos tentavam fazer bullying e eu tentava bater neles, mas o murro saia tão fraco que ainda mais riam de mim. Eu não posso entender porque acontece isto, eu não tinha medo deles, mas ficava chateado de não poder bater neles, de me faltar forças para tal,  por isto eu os evitava, não por medo. Os meninos da minha idade sempre falam em namorada, eu ainda não namorei ninguém porque tenho vergonha da minha condição. Elas não gostam de quem faz trabalho braçal, mal sabem elas, que com meu trabalho, faço mais dinheiro do que a mesada que seus pais lhe dão. Algumas delas chegam a me dizer que gostariam de namorar comigo, mas que seus pais não deixam. Eu não me importo, na rua Manoel Novais, rua da Delegacia, como é mais conhecida, tem uma casa que tem 4 meninas muito bonitas, eu gostaria de namorar com todas elas, mas a timidez não deixa. Mas o que há-de ser, será. É como  dizia minha tia Nanã. Eu me lembro muito dela e ela gostava de mim. Muito do que sei agora, ela me ensinou. Quando lhe dizia eu não sei fazer isto, ela dizia, aprenda, fazendo. Sem um começo nada se faz, se errar, faça de novo. Como era sábia! A escada mais alta sempre começa pelo primeiro degrau, o mais  baixão.

    

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                   Hoje, depois da escola me chamaram para bandeirar cacau na fazenda de Dona Maria Reis, Dona Maria do. salão. Eu gosto de trabalhar no cacau porque além do mel, a gente podia trazer algumas cabaças ou bagas para fazer chocolate. Adoro o mel e mais ainda chocolate que minha vó faz. Ela pega as bagas bem secas, crocantes e passa no moinho de milho, depois ela põe leite e açúcar e às vezes castanha de caju e bate no liquidificador, formando aquela pasta que leva ao fogo lento. Um beleza e cada dia ela faz de jeito pra gente com café. Lá vou pra roça, amanhã é feriado, não escola. Podar e desbrotar cacau. O tempo, como sempre, chuvoso e as estradas perigosas, obrigando-se a se usar correntes nas rodas para subir as ladeiras. Tinha medo do carro cair num precipício que eram muitos, mas ao mesmo tempo achava que se acontecesse eu não morreria. Foi assim que me acostumando com situações difíceis e me saído bem sem nenhuma lesão.





                   Amor, se fosse um pum, eu nunca mais te soltaria.

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

        Sei não, Manca, é Zé Chuvisco de um lado, Maria Chuteira do outro.  Nós tá, oh! Fazendo uma rodinha com o polegar e o indicador da mão esquerda e batendo com a palma da mão sobre a rodinha,  dizia. Revoltado, o caba. Não é pra menos. 

Sei não, leio nos jornais que os cientistas fotografaram um planeta recém-nascido orbitando um também nova estrela. Acho, Mancambira, que tem alguma coisa errada aí. E tem? Tem. O mundo não foi feito em 6 dias?

Sei, não, Mancambira, enquanto se combate quem sacrifica animais, há sacrifique crianças alegando ser a vontade de Deus.

Nem sei, Zé Mancambira, como se sentiu o Sarkozy quando da cela vizinha os gritos de outros detentos: “A gente sabe de tudo, Sarko. Vamos vingar Kaddafi! Devolve os bilhões de dólares”. Se fosse Zé do Saco, já o tinham matado, antes mesmo de entrar na cadeia. Não merece nem comida pública.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

DE TRÁFICO E DE TRAFICANTES

 


         Certamente, Mancambira, Lula não queria se referir a usuários de drogas, mas pura e simplesmente aos traficantes. Se realmente alguém sai de barco carregado de drogas para os Estados Unidos, é porque existem traficantes lá dentro para receber a droga, mas você não vê nenhum combate às drogas dentro dos Estados Unidos. Ninguém ali é condenado. Assim, quando falou em usuários, ele queria se referir aos traficantes americanos que não são perseguidos nem condenados, pelo governo americano.

sábado, 25 de outubro de 2025

GUILHOTINA

       




         Guilhotina. Nunca foi tão necessária, neste mundo veio de mê Deus. Inté, Frei Teodoro concorda, né, Mundacho Torto. Mais do que justus, mô fii. Veríssimo, mester e sem a premêra da escala, nem a igreja do capuchinhos da Bahia. Os bichinhos, inda se sentem discriminados, tadinhos.


quarta-feira, 22 de outubro de 2025

 



        O que tu vês, agora, Horus Didá? Eu, Zé Mancambira, se é que permitam meus  olhos veem e minha cabeça pensar, que sobre toda a terra tudo aumentou em número graças à tua justiça,  Amon-Rá; agora até as estrelas (Anjum) no céu aumetaram em número; a Mão Tingida, a Cassiopéia, de costume despojada, mas quando tu adornaste o tempo, ela colocou um anel de sinete.


terça-feira, 21 de outubro de 2025

 



          Quibas, inda criancinha tinha vergonha de mostrá-los, hoje, quase morro quando me vejo completamente nu no meio de todos. Procuro escondê-los com as mãos, mesmo assim, não consigo totalmente, ainda que percebendo que ninguém taí pra minha nudez. Não vêem? Nunca sei e saio, me escondendo de todos.