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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

                                                   












                                                     
                                                         
Contozinho mais chulé. Ainda assim, vai ser mais lido que tuas maluquices. Tu vais ver. O ACF me fala sempre. Não adianta escrever assim. Ninguém vai ler, eu não leio, imagine os outros. Foi incapaz de ler uma página do Finnegans Wake. Também, pudera, já começa com um tal de riverrun, rolarriunna que ninguém sabe o que é. Rolembergue numa noite em conversas (Rua D´Assas, 16,  Paris, quando perdi o emprego de lava-privadas da Messageries Maritimes.(Duro levantar-se às cinco, quase sem dormir), se encantou com o enredo de romance, nunca escrito, de seu primeiro amor. Um amor não correspondido. Voltando à real dissera da vontade de se vingar dela, ele ficara muito chateado. Que não estragasse tão linda história. Geraldo, um cearense pai-d´égua, também  metido a escritor, impressionara-se com um conto, tampouco escrito, que se pretendia filme.  Foi-lhe contado na pensão de D. Alice, esquina da Mendes Junior com a Praça Rudge, Alto do Pari. O Cristo Assassino. Aconteceu com Lauria, aluno dos Carmelitas. Um crucifixo de ouro prometido ao melhor aluno, dado ao menos merecido. Procissão, do Carmo a Santo Antônio Além do Carmo. Me revoltei, tomei do usurpador um crucifixo, grande,  pesado, e atirei em sua cabeça, prostrando-o no chão. Inda vejo sua cabeça ensanguentada, os olhos esbugalhados como a sair das órbitas. Boca semi-aberta, expelindo filetes de sangue. Esqueço partes e vou à frente, relembro e volto atrás.  Difícil para mim, principio,  meio e fim. Nada tem principio, nada tem fim, algo sempre existe antes do principio e depois do fim. Até admiro,  esta capacidade, esta loquacidade fluente que vai levando o leitor do muito simples e banal até o paroxismo e o gozo com um final feliz. Bernadim Ribeiro não tinha tanta certeza desta fluência da vida quando disse que o livro haveria de ser escrito  como é a vida porque, das tristezas não se pode contar nada ordenadamente. Porque desordenadamente acontecem elas. Não por acaso muitos começam uma história por seu fim, como se estivesse desenrolando um novelo, cujo fim é o principio de tudo. Outros ficam dando  pulos para frente e para trás, alguns contam histórias em paralelo como se nunca fossem se encontrar. Talvez o cinema, com sua facilidade de cortar imagens, sobrepor-se uma a outra, fundir-se com uma ou mais de uma imagem tenha influenciado esta nova maneira de contar  estórias. Olhemos bem e veremos. O homem sempre foi assim. Incapaz de racionalizar totalmente suas ideias. As vidas se repetem? Prometeu, Osiris, Buda e Jesus tem a mesma história, em suas três fases,  partida, iniciação e retorno? Mas nem todos a contam da mesma forma. Não é atoa que existem gramáticos tentando normatizar a fala, dirigindo-a para se tornarem compreensíveis. Quem seria capaz de continuar um história depois de abruptamente interrompido? Mesmo uma dor de barriga pode mudar o fio de uma história. Não dizem que, ao receber noticias de Portugal  D. Pedro I estava cagando sua dor de barriga às margens plácidas do Ipiranga? Nem mesmo os mais íntimos de Deus, os mais santos se livram de cortes de raciocínio. Madre Teresa, dizem, vacinava o bumbum de crianças em Calcutá, quando foi chamada ao telefone. Ao voltar se confundiu, não sabia onde parou e perguntou: Em qual cu tá? Sejamos francos, um contozinho muito do reles, este. Mas o  pior é  que todo mundo agora quer publicar suas porcarias. Se eu facilitar, até D. Lela, perdida na cozinha do Ginásio Gilberto Viana, lá em  Itambé, vai querer publicar receitas de seus quitutes.  Quero, comer, D. Lela, Quero comer D. Lela, gritava a turma no refeitório para desespero dos padres. Polito, amado professor de matemática; Antonio Rocha de pernas tortas, poemas parnasianos enaltecendo tardes primaveris e vôos de  pombas que não se viam, nestes tristes trópicos, Vicentinho e Vicentão brigando com os maiores do internato, no jogo da bola. Vejam só, já estão  me acusando de já estar fugindo da regra máxima do romance. A unidade. Hydra e outros escritos não teriam nada a ver como os demais.
Ora, unidade, lógica, como se a vida tivesse alguma. Só na cabeça das pessoas, não na vida. Vida, pedaço de surpresas a ser superada  a cada instante. Não dá tempo estabelecer caminhos, impor regras. Eles se nos impõem. O fato é que nem sei mesmo se algo escrito foi sonho ou realidade. Se aconteceu na minha mente de autor ou na dos personagens.  Se o personagem é meu próprio alter ego, ou representa alguém de quem aprendi a história. Quem me disse que sou obrigado a esclarecer tudo isto? Quem me assegura que o conseguiria? Deixemos correr a pena conforme leva a vida. Deixa a vida me levar, vida leva eu. E assim vai outro aí. Talvez seja também um dos mais lidos.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

















                                             
                                                   
                                                    



Deixem que existam diferentes religiões, deixem que floresçam, deixem que a glória Divina seja louvada em todos os idiomas do mundo. Respeitem as diferenças entre religiões e reconheçam-nas como válidas, sempre que estas diferenças não tratem de extinguir a chama da irmandade do homem e a paternidade de Deus. Belas palavras de  Śri Sathya Sai Baba, morrido hoje 24 de abril de dois mil e onze, em  Puttaparthi.
Encarnação de Deus, um impostor. Jesus que os  gregos chamaram Ungido (Antes de ser enterrado ungiram-no de óleo,  Cristo), não se nega ter sido homem. Só os docetas, hereges. Corpo, um fantasma, sofrimento e morte, aparente.  Sendo Deus, sofrer? Deus  não era.  Jesus, nem do nome se tem certeza, (Esqueceram de registrá-lo no cartório e há quem diga se chamar Emanuel), nasceu de uma mulher, embora por inseminação artificial, fruto de celeste  doação de sêmen,  teve um corpo, logo,  há de se admitir, cuspia, peidava,  mijava, e  cagava,  pois ninguém nega comer ele do peixe pescado pelos discípulos, e quem come tem de cagar, pois como se disse,  antes de pregado na cruz, ceou com seus doze homens,  pão e peixe, regado a bom vinho, porque, sendo ele rei dos judeus, não iria beber um carrasco qualquer, com a vantagem, ainda, de poder fazer da água o melhor dos  vinhos,  se algum de seus apóstolos não mais encontrasse da boa uva fermentada  nas adegas, onde bebiam soldados romanos, fariseus, prostitutas e aduladores, porque todo povo dominado tem seus covardes e puxa-sacos. O vinho como bem disse Plinio, o velho, é o sangue da terra e é deste sangue que se alimenta o senhor com seus fieis seguidores.

Queria eu dizer o que?  Jesus, corpo e vida d´homem, tanto que crucificado, embora não o se tenha achado, pois o corpo procurado escafedeu-se num estrondo,  botando a correr, cagando-se, sentinelas e curiosos. Devia ser mesmo assustador aquele homem surgindo das profundezas dos infernos, tal como pintou El Greco,  exangue, comprido, e seminu, derribando a todos subindo aos céus, sem  cordão puxando-o para cima, nem fogo alimentando um balão como nas noites de São João. A soldadesca e as prostitutas que o seduzia nem teve tempo de correr. E lá se vai mais um mistério, porque toda religião que se preza tem de ter mistérios e milagres, pra não cair na vulgaridade e quedar-se manca de credibilidade. Há mesmo quem negue sua própria existência.  Michael Paulkovich, hoje,  afirma ter estudado   cento e vinte e seis escritores da época do nazareno e as seguintes. Nenhuma palavra. Teria sido o divino mestre simples criação dos rabinos, por necessidade de herói, um seguidor? Paulo, nascido Saulo em Tarso, na atual Turquia, não sabe onde e nem mesmo quando Jesus nasceu. Sua crucificação, uma metáfora. Só Josefo, 95 anos depois cita Jesus. Teria sido acrescentado em edições posteriores, como se afirma? E a ressurreição, contada por Marcos, que tampouco conheceu Jesus, teria sido também reeditada?  Ninguém fala  do homem da Galiléia, levando a dúvidas sobre o divino cabeludo.  Teria sido Jesus,  Homem-Deus,  e o cabeludo Sai Babá, um cabeludo impostor? Corpo de Cristo, lembra-me  a piada do padre e do bêbedo. Antes da missa o padre foi ao sanitário, mas esqueceu de lavar as mãos.Na comunhão o bêbedo recebe a hóstia, com as palavras santas. Este é o corpo de Cristo... Contrito foi-se ajoelhar no seu lugar. Mas, bêbedo é bêbedo, virando para  o vizinho, disse. Se esta porra é realmente do corpo de Cristo, dei muito azar, peguei logo a parte do cu.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

URUTAU É MÃE-DA-LUA


Noite em Paris, em breve nas livrarias.












Quando a mãe-da-lua cantava, era noite. Quelí também uivava co grito invisível daquel´ave, fantasma dos galhos secos nas noites d´Ourissanga.   Queli, quanto eu gostava. Da  língua, o baticum ouvir, bebendo leite. Sacudia alegremente a cauda, era só papai Nézinho chamá-lo junto a gamela. Quando a mandalua cantava, Queli dormia, acordava e latia um ganido assustado, mas amigo, porque sabia, não há perigo no canto do Urutau, no assobio do curiango, no grito do bacurau, na escuridão silenciosa da pituna. Meu bacurau doce e formoso, ouve a prece de Tainá, salva meu Cauê do mal. Lindo bacurau da mata, cura o dente da jurema. Dizendo e bacurau escrevendo.
Quando a mãe da lua cantava, soturno e agourento canto,  eu acordava, ouvia Nanã: Dá já falou, Dá já falou. Quando a mãedalua gritava, noite escura, tinha medo de seu canto. Por que será de teus cantares? suspiros d´enamorados? Deusa: ensinar  a falar ao homem. Quando o urutau  cantava era noite bonita, chirriava e ninguém via. Dá já falou, Nanã  respondia ao sopro d´urutau, fagote das matas tropicais. Nheambiú chora  Cuimbaé. Mistérios da fala, mistérios do amor. Cantofala. Da camarinha, o escuro, o canto e voz ouço de Nanã. O brilhoazul nos olhos da manhã. Sim, ouvira a mãe-da-lua, cantar. Olhos, cabeça e corpo, diziam. Encanto e medo,  pássaro fantasma, fincado em galho seco em noite quente do sertão.
Ourissanga da Ponta da Serra. Um casarão sobre a colina, de onde se via o peji de Hélio curador. Bate cancela, tambor repica, arreia-se o padê, na procissão. Cura de seus males. Cegos, aleijados, tísicos, aluados, mundo, enlouquecidos.  Medo, enlouquecido mundo. Ismael, louco Ismael, barria as ruas d`Aroeira, cantando,  fanhosa e rouca voz. Chulas,  cantigas do carnaval marcadas com  bassoura de cassutinga. Quem te pôs no porta-malas, Carine? Quem te atiçou sobre as fezes do mundo,  tann sem hauser? Mundinsano.  Depressão, estava, antes. Modismo, besta.  Milhões, muito mais  daqui pra frente, sofrendo. Tristeza? Toda alma é triste, nossa humanidade. Vontade de sair correndo. Mundo, pequeno mundo.  Não quero ver ninguém, só estar na multidão. Não tenho direito de ser feliz. Alguém tem? Não quero levar ninguém comigo. Cada qual viva sua vida e não se culpe por nada. Notícia ruim  corre depressa. João correu pro mato. Procurar. Alguém o viu todo lascado por espinhos pro lado da Pedra Bonita. Se o mundo é louco?  Líria, por que  pagastes por te matar?  Que faz um homem aceitar dinheiro pora matar quem lhe pagou? Tu respondes, Ricardo? Trinta  anos abatidos por uma bala que nem de ouro era, como a que matou Júlia Fetal pelas mãos de seu noivo João Estanislau da Silva Lisboa. Mundo louco mundo. Cães  ladram e mordem não me aborreçam. Fui sacudido com os gritos assustados de um galo d´angola que, fruto de  despachos (Helio fazia despachos com animais vivos, não os matava), havia montado no mato e vivia com galinhas também em estado selvagem. Como os bichos, o homem, também pode voltar ao estado selvagem? Ou será que já chegamos lá? Por medo, não se lhes tocava, reproduzindo-se rapidamente, deixando-se ficar ali espantando as pessoas, romeiros, caçadores e viajantes. Mundo imundo enlouquecido. Do fundo de casa se via, no pé do morro,  a fazenda de Zulé. Casa caiada de portas vermelhas, um curral de gado e chiqueiro  d´ovelhas e cabras. Ao lado, a casa de Mariquinha, onde  comi  a melhor galinha da minha vida. Nada se faz hoje como antigamente. N´A Portuguesa da Avenida  Sete, sim, que galinha, Mariquinha se fez presente, retorno  ao passado. Que estás a pensar pá?  Ponha mais um pouquinho, o menino gostou da galinha. A mãe do portuga que fez comigo o salto. Bom este pirão. De lamber os dedos. Mole de gorda. De  galinheiro, milho inchado pelo bico, como capão de mulher parida. Galinha, o prato chefe do Stock Pot,  onde Luiz confundiu a conta, the bill, com um prato. Procurando no cardápio. Desculpe senhor, este prato, nós não temos.  Cara, ele está te pedindo a conta. Quem conta um conto aumenta um ponto. Sério que foi assim. O riso no ponto da marinete. Roceiro pechinchando. Um mil-reis está caro, pago quinhentos-réis. Arrelia dos da cidade. Cidade maravilhosa cheia de encantos mil, de dia falta água, de noite falta luz. Ourissanga, na frente o varandado, luz de  fogueira pra esquentar  frio e pandeiro. Anos depois, quem diria, o Varandá, (corruptela de varandado), da Rua Pau da Bandeira, boêmia das noites baianas, ombreando o Cruz Vermelha, nascido em l883, vibrando nos setenta do século vinte, me veria.  Dramáticas discussões, regada a  suco de cevada, por um bode morto em pleno espetáculo de Ariman no Teatro Castro Alves. A alma penada de Lady Macbeth nos corredores do castelo e a loucura de Macbeth no banquete com a visão do fantasma de Banquo. Ou ainda o impacto  da moralidade medieval  “Todo Mundo” vista do fim ao principio numa inversão proposital de seu diretor Jesus Chediak. Na estreia, Fausto resolve, no final, (até hoje não se sabe se improviso, ou constava do espetáculo) abraçar delicada e sensualmente a bandeira do Brasil. A policia Federal proibiu o espetáculo que se ensaiara longos meses e a Universidade gastara uma pequena fortuna na produção. Tempos de ditadura. Toda atriz era prostituta, todo ator, viado. Do varandado, de onde se via o cemitério e  o curral do Garapa, se penduravam gaiolas e cortiços. Uruçu, o melhor mel. Mandaçaia, o mais bonito. Jitaí,  milagroso, tubi, o mais vulgar, sanharó, o mais nojento, arapuás, manduris. Quando se ia furar cortiço ninguém visitava Ourissanga,  não assanhar as abelhas. Noite de escuro, chapéu, foice e machado, facão espingarda  e facho,  furar arapuá. Enrolando-se nos cabelos, entrando pelos ouvidos, gostoso mel. Atingia-se o varandado por duas enormes pedras  postadas em frente, à guisa de escada. A casa sempre acima do chão, como num pedestal, solução da arquitetura rural, dificultar a entrada de animais, especialmente, cobras. Daí se viam também  o terreiro, a malhada  e o pasto da frente.  Varanda, a sala da frente. Ai se armavam redes, penduravam-se nos cabides, cintos, chapéus e chocalhos e outros apetrechos. À direita da varanda, uma  porta ligava ao paiol, uma enorme despensa que se alongava até  a cozinha, por onde também se entrava. No jirau se guardava o milho, o feijão, a farinha e outros mantimentos. Homens subindo  a escada, sacos na cabeça a despejar no jirau. Fazia um barulhinho gostoso. Um pouco, a música da terra. Bonito ver a farinha derramar-se no salamim, quando se abria a gaveta do jirau. Poeirinha branca pintando  cara,  cabelos.  Sai desta p’uêra, m´nino, Quantas vezes não  ouvira? À esquerda, o quarto da frente. Dormiam meus tios e depois, também eu quando já crescido. Pandeiros pendiam das paredes. Ganchos de madeira trabalhada desciam do telhado onde  se guardavam roupas. Três camas, madeira e couro. Bom batucar nas  camas.
Tambor. Pandeiro. Marcam o samba, o batuque, a chula, e o martelo chorados na viola,  chora.Palmas em contratempo embaladas por colher  arranhando  prato. Quando o sol se esconde tio João pega o pandeiro,  esquentá-lo no fogão. Crepita a brasa,  retesa o couro. O fogo afina o couro, a mão afina o tempo. No varandado, toca a  tocar. Ressoam pandeiros  na mata, assunta o caboclo,  de ouvido aguçado.  Responde ao chamado seu Gregório. Diálogo das mãos no couro de gato esquentado. Sons da mata, ritmo da vida,  Iniciado.

Continuação no livro NOITE EM PARIS.