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terça-feira, 13 de junho de 2017

AMIGO DOS BICHOS

                                             



                                           
     Não era solitário por querer, mas por timidez. Amava a tudo e a todos, um amor à distância, sem arroubos de romantismo, nem exibicionismo, sem alarde. Prestativo, a todos dava uma palavra de alegria ou conforto, quando solicitado; nem era egoísta, e, até, deixava de fazer por si para fazer pelos outros, mas uma tristeza imensa lhe advinha quando se sentia traído ou explorado por alguém. Era também vítima dos mais absurdos desentendimentos. Colégio Vieira. Internato. Empresta dinheiro a um colega. Fê-lo com prazer. Era pouco, mas entregou-o. Davis, tinha-o como um dos melhores amigos. Poderia precisar também um dia. E Davis, sua família, tinha dinheiro. Uma tarde, depois do recreio, subia a escada para o dormitório dos médios, onde iria tomar banho e vestir-se para a banca da quatro,  ouviu, no alto-falante de frente ao colégio, ao lado da Igreja Batista do Garcia, Nat King Cole. Cantava El Bodeguero do cubano Richard Egües.

      el bodeguero bailando va,
      en la bodega se baila asi,
      entre frijoles papa hay aqui,
     el nuevo ritmo del cha cha cha,
     toma chocolate paga lo que debes,
    toma chocolate paga lo que debes,
  Corria, porque, quando se é jovem, tudo é na carreira, escada acima, cantarolando a canção,  alegre e despreocupado, quando encontra. já no dormitório o amigo Davis, e canta em tom de brincadeira: Toma chocolate, paga lo que debe, apressou-se a tomar seu banho. Não demorou uma semana, Davis chega com o dinheiro para lhe pagar. Tão aturdido ficou,  nem tentou explicar-se, envergonhado. Não lhe estava cobrando. Hoje ainda não se redimiu do mal entendido; Ah,  quase bota a perder uma amizade. Assim era. esperava dos outros mais do que  lhe podiam dar. Compenetrado, dava aos sábados aulas de religião nas escolas do Garcia e Federação. Nem imaginava como falava em sala de aula. Meninos e meninas da mesma idade ou pouco menos que a sua. Parecia iluminado. Furtivos olhares, para a moreninha de olhos claros. Marly era ela? Apoquentado, nem sabia o nome de seus alunos. O mundo hoje o vê criando animais abandonados na rua. Cachorros, gatos e até periquito.  Se enreda cada dia mais nesta atividade. Deixa de frequentar os amigos.  Cuida de suas feridas e doenças. Leva-os ao veterinário. Castra o machos, esteriliza as fêmeas. Não venham a se reproduzir e sofrer mais do que já sofrem  na mãos do  homem, egoísta e malvado. Sonha. Ganhar uma fortuna na Mega-Sena, comprar um sítio, criar bichos. Fede a cachorro,alguns animais, dormem com ele.  Transforma a casa adaptando-a, no seu pensar, aos animais. Sanitários, móveis readaptados.  Não há lugar para o humano se sentar. Cortam-se todas as árvores do jardim. Que os gatos não as façam de trampolim para  pular o muro. Gatos gostam de altura. São feitas prateleiras, lá eles dormem. Cachorros nos sofás e nas camas. Uma enormidade de dinheiro com ração e remédios. A aposentadoria, sim, era também aposentado, uma história de loucura que vale um livro, ia-se minguando, quase não sobra para si. Já aparece na mídia de vez quando, em entrevistas e todos o tem em boa conta e respeito. Sempre aparece um para lhe trazer mais bichos. Dificilmente os recusa e faz questão de mostrar seu plantel a todos. Chama-os pelo nome, quase todos nomes de gente, acaricia-os e apresenta-nos ao visitante. Uma menina linda, parecia Chapeuzinho Vermelho, sempre passava em frente à sua casa e ficava curiosa em conhecer o interior da quela casa e aquele misterioso  homem. Dia destes, ele estava na porta com um gato nas mãos. Ela o olha com olhar de simpatia, ele lhe devolve o olhar e pergunta se não quer acariciar o bichano, indecisa, se aproximou e passou a mão sobre a cabeça do gatinho. Ele a convida a entrar, conhecer a casa e seus habitantes. Ela, ainda indecisa, entra na casa e ele, todo  solícito, vai mostrando-lhe e apresentando-a a cada um dos animais. Este, atropelado e trazido para cura-se e foi ficando. veja, uma beleza, ninguém mais o reconhece, de sequela, apenas um pequeno aleijão,  em uma das patas. Aquela é Lambiscóia, sofre de epilepsia. Tenho de medicá-la todas as noites para evitar as crises. Onde estiver, tenho de estar em casa até as 19 horas.  Dar seu remedinho. Completamente absorto na história de cada bicho,  não percebeu, de imediato,  o quanto a cativava, com tantas  palavras de carinho. Deve de ser uma doçura de pessoa. Esqueceu a pressa  para a escola. Sim estudo ballet na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, minha mãe trabalha na Escola de Teatro da Araujo Pinho, sabe onde é? Aproximou-se dela, tomando-a pela mão, chamou-a para mostrar-lhe, o segundo piso, onde ficava o príncipe de seus animais. O mais bonito, o mais querido. Magnetizada por aquela voz, aquele amor. Levou-a ao quarto. Lá estava o príncipe, confortavelmente deitado na cama do casal, sim ele era casado. Alisou-lhe o pelo e pediu a ela que fizesse o mesmo. O Príncipe se arrepiava todo, deitando de patas para cima, excitando-se ao toque  carinhoso das mãos. Ela começou a sentir uma sensação estranha e de repente sua mão tocou a dele. Ambos se olharam e uma faísca saiu de seus  olhos, deles. Se atracaram, e rolaram na cama à vista do príncipe que também se excitara e roçava sobre eles, com ganidos de prazer. Ele tentava tirar príncipe de cima deles, mas o cão mais se excitava, subindo sobre os dois. Naquele embolar de corpos ela toca o pênis do príncipe e enquanto o homem metia-lhe o dele, ela masturbava o príncipe. Não se sabe quantos minutos duraram  aquela cena, eu não estava lá, nem ela, nem ele me contou. No momento do êxtase foi um grito só. Homem, mulher e cão. Cansados, adormeceram sob a vigilância do príncipe, agora com o sentimento de amante dos dois. Não durou muito o sono dele. Acordou e a viu adormecida, com o braço sobre o príncipe que cochilava apenas. Teve uma ideia. Macabra. Ficou indeciso por muito tempo. Voltou às cavernas quando o homem comia o próprio homem para saciar sua fome. Os tupinambás comiam seus prisioneiros para adquirir sua força, matar a fome e economizar a caça. Pensou enforcar a moça. Não, ela poderia acordar e gritar. Depois a bichinha ia sofrer muito com a asfixia. Depois teria uma "morte suja". Haveria um descontrole dos esfincteres e ela se cagaria e se mijaria toda, denunciando o ato. Foi à cozinha. Pegou um cutelo. Tampouco lhe daria morte instantânea. Se acordasse seria um deus no acuda, depois não queria que ela sofresse. Em boa hora, lembrou-se do pilão de Horus. De seus bisavós, dissera, Didi. Trazido de Mairi, estava ali guardado, por enquanto.  Feito de massaranduba, com mãos de imirá-itá, madeira pesada e resistente. Os índios a usavam para fabricar seus tacapes.  Bila, ele era conhecido assim, pegou u´a mão-de-pilão e  caminhou para o quarto. Sua amada inda dormia o sono dos justos, Príncipe brincava com sua calcinha preta. Quando ele viu seu senhor com a mão-de-pilão,largou a calcinha e  murchou as orelhas. Teria o perro sonhado o que iria fazer seu patrão? A quem ele pretendia matar a si para dar de comer a ela? Teve medo, mas se sentia feliz em servir de repasto para quem lhe proporcionou uns momentos de prazer. Também Baleia, quase  serviu de pasto para Sinhá Vitória, Fabiano e os meninos se não fosse o infeliz do louro. Bila não queria que Príncipe visse, nem mesmo adivinhasse o que iria fazer. Puxou-o delicadamente da cama, com cuidado para que ela não acordasse, pô-lo fora do quarto e fechou-o. Príncipe reclamou com leves ganidos, mas se conformou ou fez como se estivesse conformado. Bila mirou com ternura aquele corpo sobre seu leito, nua, os seios, como o corpo,  ligeiramente pendidos para esquerda. Rescendia um cheiro forte do amor. O vento sacudia fios de seus cabelos. Tão bela, não acredito que tenha algum pintor pintado quadro igual. Um tênue sorriso se viu de seus lábios. Talvez estivesse sonhando com lindas cenas de amor, que o jovem não ganhou ainda o tempo de sonhar cenas de sangue e desamor. Bila suspendeu o tacape, mirou sua cabeça, indeciso, mas depois decidido e desceu sobre ela o pau ferro. Não houve tempo para choro, nem grito. Como estivesse de lado o olho direito saltou da órbita e bateu no guarda-roupa. Para se certificar da morte, deu-lhe de novo com o tacape, o da misericórdia. O sangue jorrou mais abundantemente. Os Cachorros e gatos que não podem sentir cheiro de sangue começaram a ganir e a miar. Ele pegou da faca e começou a descarná-la. Cortou primeiro a cabeça, depois os braços, as pernas. Abriu a porta e começou a distribuir sua carne aos animais. Alimentado os animais, pegou a sobra, enrolou em pedaços com papel alumínio e foi colocar no  freezer. Depois lavou o resto de sangue que os animais não conseguiram lamber usando detergentes. Enrolou também os ossos  em papel alumínio para que não emitissem cheiro e os enterrou no quintal da casa. Terminado  todo o serviço, tomou banho. Ligou a tevê, pegou uma cerveja na geladeira, sentou-se e saboreou-a. Uma nesga de  alegria estava surgindo. Pegou o celular e mandou um zape para Didi. Resolvido o problema da alimentação dos bichos.
Mas porque falas disto? Não tens tu também a cabeça de um falcão? Não és tu a pomba que os cristãos chamam Espirito Santo. Por que condenas teu amigo que dá de comer aos bichos de carne humana? Por acaso não dilaceras tu os corações dos humanos que não te seguem?   





domingo, 17 de abril de 2016

VIAGEM DENTRO DE MIM
















 Relaxa cara eu não vou te matar teria dito eu, ao gordinho que me pediu para não matá-lo. Ele se cagou todo quando botei a arma em cima dele. É nenhuma, meu rei. Você não é o meu. Queria apenas fazer medo, mostrar que vocês todos são uns cagões. Todo mundo pedindo arrego, mas na hora de pegar no meu pé, todo mundo era o porreta. Juro que não queria isto. Nunca pensei nisto, quando a gente vê, já fez. Eu estou aqui, nesta pedra gelada. Cadê  alguém para me buscar? Nem parente, nem derente.  Vergonha? Quando deviam ter, não tiveram. Agora todo mundo é bonzinho, só eu sou monstro. Pensam que não sofri por isto? Ninguém é melhor que ninguém. Só não se tem as mesmas chances. Não reclamava de nada. Iria adiantar? Reclamar, com o jeitinho, senão será pior. Agora inventam coisas. Em minha boca, palavras que nunca disse. Vasculham minha casa, como se fosse um cão danado. Quando só, ninguém me visitava. Minhas memórias, queimaram-nas, pior que a morte. Esconjurado estou, famoso, não. Buscam razões onde não as podem encontrar. A mídia vai à loucura, dinheiro. Ninguém me compra um jasmim, adoçar o ar. Frio nos ossos e na alma que se não partiu, inda atrelada a meu corpo virgem e sedento de amor e compreensão. Anátema. Uns nascem para brilhar, ofuscando outros, debatendo-se na escuridão. Injustiça? quem sabe? como compreender as leis do mundo? Sim, doloroso é. Quando virão  me buscar? Não volto mais, alguém já voltou, para contar da luz, das trevas?  Ficam as obras, para onde fui empurrado? Manchada a família. Qual, Que imagem? A do oprimido? Outros se banqueteiam na orgia e concupiscência. Não tenham medo, logo nos esquecem. O mundo quer escândalos, mas tudo é fugaz, superficial, a essência, ora a essência, motivo de deboche. Vaidade. A aproveita-se da bondade e da inocência e se explora e humilha. Não os levam a sério, não os respeitam, depois surpresos e indignados com a revolta. Estou te estranhando, você nunca foi assim. Querem a submissão, mas ninguém se conhece, pode explodir. Se se sabe, seria pior ou entediante, ou mais perigoso, ou, ou. Um julgamento, sem defesa, cada palavra uma ofensa. Falsidades, deslealdade e hipocrisia. Filisteus, dizia Nietzsche. Um dia se verá que somos, e surgirão heróis, louvados e decantados. Especialistas, na mídia, explicando, doutoralmente, o inexplicável. Os meios de comunicação ganhando com a miséria do mundo. Mentira deslavada empurrada goela abaixo, o rebanho a recebe num misto de medo e prazer. O diferente, vilipendiado e humilhado, seu sofrimento leva a turba ao orgasmo. Não pensar como a maioria, é ser o outro, o infiel, o desleal, o falso, o corrupto e o perverso. Meu velho professor:  Não lute contra esta corja, será esmagado e fui. Ainda aqui, nesta pedra fria. Lá fora, elogios e promoções. Chora a turba. Matariam  mil vezes, se pudessem. Matado já estava, fingiam não ver. Espero que ninguém se mire neste espelho, nem me ache um gênio, nem sentir-se honrado em ser morto. Todos os caminhos levam a Roma, sabedoria é buscar o menos doloroso, embora nem sempre possível. Muitos superam humilhações e abusos, mas, repetindo o chavão,  cada homem é um  mundo. Não se quer entender isto, chocam-se depois, com a revolta do assediado, do humilhado. Não é uma justificação, é reflexão.  Não culpem  ninguém, culpados somos todos nós.  Só o desonesto nega isto. Cometem pecados, dão esmolas. Absolvição, paraíso. Por que não enxergar os negócios sob togas, guarda-pós e batas?  Armas para  vida transmudadas em morte. Agora sou vendido a preço de ouro. Brigam  por uma informação. Melhor recebe, quem melhor paga.  Todos querem tirar uma lasquinha. Nada sabem da história, mas fazem declarações. Pura vaidade. Que não se aproveitem para arrotar valentia. Já nada sou. Que não motejem, bradando palavras que não disse, nem incentivem a violência contra o outro,  as minorias, os diferentes, os desiguais. E vocês, não tenham medo. Daqui pra frente tudo vai ser diferente. Os omissos terão mais cuidado, pensarão mais em vocês. Os hipócritas,  os analfabetos e esnobes, que têm nojo de pobre,  saberão usar as palavras, saberão que a pirraça mata aos poucos, mais cruel do que a ação de matar. Verão o massacre de cada dia, sem o alarde de agora. Monstro, sou, não quando era massacrado. Reflitam sobre os atos do homem, e deixem de fazer espetáculo, só enganam os comedores de novelas,  futebol e carnaval, não os que pensam e se preocupam com o humano. Vocês só se preocupam em mostrar-se, não  em chorar os mortos, porque a morte, como a guerra, só a poucos  beneficia. Lágrimas de ritual, como as carpideiras da Grécia. Um emprego. Alguém me olhou? A conquista de  uma nota no jornal, de  um minuto de fama. Mundo vão. Todos se aproveitam, até o papa Bento XVI, que dizem ter sido nazista, quer aparecer. Por que ele não se ocupa da matança de inocentes nas guerras de conquista no mundo? Com as crianças morrendo de fome?  Por que  não se preocupa em distribuir os bens da igreja aos necessitados? Sanguinário, assassino, monstro sou. Ninguém veio me buscar,  enterrado como um indigente, um qualquer. Vergonha de mim. Sonega-se impostos e não se tem vergonha; Vende-se o próprio corpo por um emprego, um pedaço de pão, uma manchete em jornais e não se tem vergonha; Fabrica-se remédios de farinha de trigo, dosagens falsas e não se tem vergonha; Oferece-se propina em tudo, compra-se coisas furtadas,  roubadas e contrabandeada e não se tem vergonha. Hoje, mais do que nunca estou triste. Enterraram-me. Arrastaram meu corpo, inerte e sem resistência, atiraram-me como bestas-feras. Quem não respeita a vida, vai respeitar a morte? Açougueiros, enaltecidos como heróis. Uma  mídia vomitando  fezes para a multidão tresloucada, tentando incendiar o mundo para apagar com o sangue dos inocentes o fogo que provocou. Não sabe a gentalha que a ela só lhe cabem as migalhas atiradas pelos donos do mundo. Homem, como fostes  enganado pelos séculos além! Sofrestes tu quando eras mutilado no Congo pelos asseclas de Leopoldo II  da Bélgica em troca de borracha? E tu Patrice Lumumba,  por ordem de Eisenhower assassinado? Sofrestes? Amarrado à traseira d´um caminhão, arrastado até Leopoldville.  Executado aos olhos de Tschombe. Te deram defesa? Sofrestes? Exumado por Soete, imerso em ácido e incinerado. Não deixar vestígios. Sofrestes tu Lumumba?  Sofrestes tu quando o papa Urbano II deu inicio às Cruzadas? Homens, mulheres e crianças matando e morrendo em nome de Cristo? Chorastes a carnificina de muçulmanos, árabes e "infiés" que não se submetiam à cruz? Rebanho de noveleiros, fanáticos do futebol, claquetes de programas televisos.

 Mentem como cão danado, falaram em suicídio. Havia escrito uma carta, ainda bem. Tiveram de me engolir. Senão seria outra farsa. Heróis de mentira. E o rebanho engole. Os sonegadores de impostos, os compradores de votos e de cargas roubadas, os falsificadores de licitações estão rindo como hiena na carniça de tudo o que acontece e gozam num orgasmo universal a derriça, instigada pela mídia. Logo, logo que estes profetas se tenham desincumbido desta sórdida tarefa serão defenestrados,  jogados no panacum de cascas podres por esta mesma imprensa e poder econômico que hoje lhes balançam o turíbulo.  




Continuação no livro NOITE EM PARIS, breve nas livrarias.http://blog.clickgratis.com.br/deuscarmo/