quarta-feira, 28 de julho de 2021

MATAR A MORTE

 






                        

                    Eu, se pudesse, mataria a morte, mas, tem a morte, longa vida. Por instinto ou por pensar, viu-se que a morte é nosso único e real inimigo, e, aí, toca a combate-la, ela, a parca é ardilosa e traçoeira; Nem os alquimistas a venceram. E os sacerdotes, donos do saber, vendo que não a venciam, criaram um básalmo. Prepara-te para recebe-la e terás o aaru, o paraiso, o nirbana, os campos elísios, o valhala, o janá. Todos querem o paraiso, mas se pelam quando pensam na morte. E quando um morre, se elogia e se deseja descanso eterno. Como descansar, ele nem sabe que morreu? Quando ela vem, eu já fui. Louco, mundo louco, e quem o fez, mais louco ainda. Que tanto te lamentas, homem de Deus? Oi, Zé, foi Cal que rodou. Mentira, Cal de Pedro da Boa Sorte? Indonte, tive falando com ele, dizia que tu era marvado com os borregos, suspendia e soltava de vez. É, ele me fala isto, mas juro que não me lembro. Se fazia era pra ver a agilidade deles cairem em pé. Mas não foi ele não, Mancambira, o joalheiro. O joalheiro? Você não disse que não gostava dele? Continuo sem gostar, detesto a morte, e, se ela vem tão dolorosa! Horus, tu sabes mais que muito vivente. Cancro no cérebro, ela se anuncia, maior a dor. Não valia nada, quanto desprezo, aquando lhe fui exibir sua dívida. Mas a resposta veio em cima do bucho. Culpa a ti e não a mim, se tivesses pagado as tarifas, não estaria eu aqui. Calou-se, Cal, na sua ira, eu, por dentro, sorridente.

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