terça-feira, 15 de março de 2016

O PRAZER É AGORA



















         Se arrependeu de ter emprestado seus dólares. Confirmado, brasileiro, eta, povinho enrolado. Francês não gosta de brasileiros, com razão. Zuadentos, metidos a gás com água e  mal-educados. Se  acham o  rei da cocada preta,  de repente se dá conta, não é ninguém. Ufanismo besta, apenas, atrapalha o crescimento. Horas perdidas, contemplando o próprio umbigo e a queda no primeiro round, a fome rondando passos, seguindo sombras nas catingas, brutos  sertões, esquálidas figuras nas favelas. Oras,  Horus  por seu povo, nestas horas?  Quem te disse meu nome? Falam  em frente  ao quadro de anúncios  d´Aliança Francesa. Didi, te chamam, mais conhecido que Pelé.  Não queria mais ajudar ninguém, depois de lhe terem roubado tudo, em uma festa que dera. Perfumes, roupas, sapatos  ganhos em comissão por levar turistas às lojas.  Ouvira falar dele. O cônsul particular do Brasil. Desconfiavam até. O sujeito é do DOPS Quem não vê? Está sempre discutindo política, descobrir comunistas.  Esta, uma das táticas do DOPS. Infiltração.  Lá, tudo minado, informantes até nas latrinas. Deve-se  ter cuidado. Não é bolsista, não é rico, quem o sustenta? Não é exilado político, como Valdir, Juscelino  e Arraes. Alcaguete, com certeza, dedo-duro, (naquele tempo as pessoas tinham medo de serem tachadas de Dedo-duro, hoje têm orgulho, todo mundo quer ser delator,  dá status). Diz, com orgulho, ter criado o termo racista significando os que vieram a Paris sem bolsa de estudos, foi o primeiro racista a chegar. Quem viu?   Ele realmente veio na raça, me  procurou na Cité, Casa do Brasil, diz o Quertezer.  No DOPS, Nossa ficha deve estar como pau de galinheiro. Não porra, ele é mesmo um cara retado. Veio praqui sozinho. Não esperou a “gloriosa”  intervir, se picou logo. Quem espera tempo ruim é lagêdo. Ou jegue. Nordestino é gente? Estão em todas.  Você é do Nordeste, não é? Perguntou. Não, sou do Leste. Do Leste? Onde é o Leste? A Bahia fica no Leste. Ah, então eu também sou do Leste, porque sou de Sergipe. É? O quintal da Bahia. Não, o jardim.  Queria um studio,  você me consegue?  Chegando agora,  não conheço nada, nem falo francês, não queria incomodar, sabe, né, mas a precisão... Me prometi não ajudar mais ninguém. Brasileiro só quer  levar vantagem. Quando consegue o que quer, adeus. Nem todos são iguais, desculpe,  você não deve generalizar. Esta minha experiência com brasileiros. Só  um favor, em nome da  cordialidade. Tá legal, só porque  você é sergipano, vou dar uma ajudinha, tenho alguns amigos lá. Verdade?  Diga um, talvez conheça. Rolembergue. Mas, sou eu, Rolembergue. Abraços, chorôrô,  abraços. Terra, apenas mantissa do universo. Quanto orgulho tem  o terráqueo, nada mais são que um cisco no universo intergaláctico.  



Continuação no livro NOITE EM PARIS, breve nas livrarias. 

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